segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

A estrela de Belém

Mateus capítulo 2 registra a curiosa história dos magos do oriente que visitam Jerusalém à procura do Rei dos Judeus. Eles indagam sobre o menino que nasceu, pois viram Sua estrela no oriente. Ao longo dos anos, esta história tem gerado uma série de indagações: quem eram os magos? De onde vieram? Como eles sabiam que o Rei dos judeus havia nascido? E, em particular, o que era a estrela e por que eles concluíram que ela tinha alguma ligação com o nascimento do Rei? Por que os judeus não viram esta estrela?

Anos atrás, um famoso astrônomo inglês chamado David Hughes publicou um artigo na revista Nature sobre uma possível explicação científica para a estrela de Belém. O artigo fez tanto sucesso que ele foi convidado a dar entrevistas na televisão e a escrever um livro sobre o assunto. Tive a oportunidade de assistir uma palestra em que ele explicou sua teoria, baseada em trabalhos anteriores de Johannes Kepler e outros cientistas. David Hughes notou que em 7 a.C. (historicamente, uma possível data para o nascimento de Cristo) ocorreu uma conjunção tripla (um tipo de alinhamento de planetas) entre Júpiter e Saturno na direção da constelação de peixes. Este alinhamento é muito raro e aparece no céu como se fosse uma grande estrela. Os magos, que provavelmente eram da Babilônia, teriam interpretado esta conjunção como sendo o nascimento do Rei dos judeus pela seguinte razão: muitos magos da época consideravam Júpiter como o "planeta real" e peixes como a constelação associada aos judeus, logo, planeta real + constelação dos judeus = rei dos judeus. Os judeus não tinham se interessado pela estrela porque não estavam acostumados a estudar as constelações. Quando os magos foram informados pelos escribas e sacerdotes judeus de que as profecias declaravam que o messias deveria nascer em Belém, partiram para o sul, e no caminho avistaram novamente a estrela, num novo alinhamento planetário que ocorreu durante aquela conjunção tripla. Desta vez, o alinhamento foi visto na direção sul, portanto, indicava a direção para Belém. Sabe-se que esta foi a última aparição deste fenômeno astronômico naquela época, de forma que a estrela "parou" sobre Belém.

Embora seja uma teoria interessante, existem dúvidas quanto à data dos eventos em relação à data do nascimento de Cristo. Ao final da palestra eu perguntei a ele se essa teoria não poderia justificar o uso de astrologia para outras previsões. Ele engasgou, pensou, divagou, e por fim concluiu que acha que isso foi uma exceção e que astrologia é uma farsa. É uma resposta razoável. Outros astrônomos têm sugerido que a estrela era um cometa, uma supernova (explosão de uma estrela), etc. Eu não sei o que ela era, pode também ter sido algo sobrenatural. Mas prefiro uma outra teoria sobre como os magos souberam que o Rei dos judeus tinha nascido. Supondo que os magos fossem da Babilônia, eles teriam tido contato com os escritos do profeta Daniel, que foi considerado o maior sábio da Babilônia por volta de 537 a. C., após interpretar um sonho do rei Nabucodonosor (Dn 2:1-49). Sendo assim, os magos provavelmente tinham acesso ao conteúdo do capítulo 9 do livro de Daniel:

Dn 9:24-25 - "Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo, e sobre a tua santa cidade, para cessar a transgressão, e para dar fim aos pecados, e para expiar a iniqüidade, e trazer a justiça eterna, e selar a visão e a profecia, e para ungir o Santíssimo. Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar, e para edificar a Jerusalém, até ao Messias, o Príncipe, haverá sete semanas, e sessenta e duas semanas; as ruas e o muro se reedificarão, mas em tempos angustiosos. E depois das sessenta e duas semanas será cortado o Messias, mas não para si mesmo; e o povo do príncipe, que há de vir, destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será com uma inundação; e até ao fim haverá guerra; estão determinadas as assolações."

Estas palavras foram ditas a Daniel pelo anjo Gabriel, o mesmo que apareceu a Maria e José mais de 500 anos mais tarde (Lc 1:26). Nesta época, Jerusalém estava destruída e grande parte do povo judeu estava na Babilônia. O anjo anuncia o que vai acontecer em um prazo de 70 semanas sobre o povo de Daniel (os judeus) e sua cidade (Jerusalém), incluindo a reconstrução da cidade, o aparecimento do Messias e sua morte. Vamos deixar a septuagésima semana de lado por enquanto e nos concentrar nas outras 69. Para os judeus, uma semana pode significar 7 dias ou 7 anos (Lv 25:3-4). Neste caso, sabemos que trata-se de uma semana de 7 anos porque seria impossível o cumprimento da profecia em semanas de 7 dias, pois não daria tempo de reconstruir Jerusalém e ainda ver o nascimento e morte do Messias. Além disso, o livro de Apocalipse interpreta a metade da última semana desta profecia como sendo um período de 42 meses, ou seja, três anos e meio (Ap 13:5).

Sendo assim, podemos começar a contar os anos. Do decreto para reconstruir Jerusalém até o aparecimento do Messias são 7 (até o fim da primeira fase da reconstrução de Jerusalém) + 62 (até o Messias) = 69 semanas. Temos, então, 69 semanas = 69 x 7 = 483 anos. No calendário judaico, os anos têm 360 dias, portanto, 483 anos = 483 x 360 = 173.880 dias. Agora, só precisamos descobrir quando saiu a ordem para reconstruir Jerusalém e contar 173.880 dias a partir desta data. O decreto encontramos no livro de Neemias 2:1-8, onde a data é o ano vigésimo do rei Artaxerxes da Pérsia, no mês de Nisã (março-abril no nosso calendário). Registros históricos nos levam, então, a março ou abril de 444 a. C. (antes de Cristo) como a data para o decreto. Vamos fazer uma conta grosseira com estes dados. Primeiro, para descobrir quantos anos de 365 dias estão contidos nos 173.880 dias é só fazer 173.880/365 = 476 anos. Então, para saber que data obtemos quando contamos 476 anos a partir de 444 a. C., basta subtrair 444 de 476, e encontramos 32 d. C. (depois de Cristo). Mas, não existe ano zero, o calendário gregoriano vai de 1 a. C. a 1 d. C., portanto, a data a que chegamos é 33 d. C., exatamente o ano da morte de Cristo. Cálculos mais precisos feitos por alguns autores, levando em conta os anos bissextos (de 366 dias) e pequenas correções no calendário gregoriano, levam o cumprimento da sexagésima nona semana da profecia de Daniel para a semana da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, quando Ele foi aclamado pelas multidões como Messias. Poucos dias depois Ele foi crucificado. Anos depois, Jerusalém ("a cidade") e o templo ("o santuário") foram destruídos pelos romanos ("o povo do príncipe, que há de vir", não confunda ele com o Príncipe que foi morto), conforme a profecia.

Só para constar, o livro de Daniel foi traduzido para o grego por volta do ano 270 antes de Cristo, na famosa "Septuaginta", a versão em grego do Velho Testamento.

Voltando aos magos, se eles de fato tinham acesso ao que Daniel escreveu, era normal que esperassem um sinal do nascimento do Rei dos judeus, pois eles sabiam que estavam vivendo na geração que presenciaria aqueles fatos. Quando eles viram um sinal nos céus (seja lá o que for a estrela de Belém), concluíram, movidos pelo Espírito Santo, que o Rei havia nascido. Isto não significa que eles não eram idólatras ou astrólogos, mas Deus pode se revelar aos pagãos, se quiser, assim como fez com o profeta Balaão em certa ocasião (Nm 22:9). Esta conclusão é apenas uma teoria, mas se estiver correta, não foi por meio de astrologia que eles souberam do Messias, mas por meio da Palavra de Deus.

E você? Como responde ao nascimento do Rei Jesus?

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Que amor é este?

Não, eu não li o livro do Dave Hunt com o título acima e, pelo que ouvi falar, não defendo a mesma tese que ele. Mas achei que o título era apropriado, pois eu gostaria de escrever sobre o amor de Deus dentro do contexto de Soteriologia (estudo da doutrina da salvação). Antes disso, vale fazer uma observação. Às vezes pode parecer perda de tempo ficar discutindo por causa de detalhes doutrinários complexos, sobre assuntos que não atraem a atenção da maioria das pessoas. Uma das razões para gastar tempo com isso é que a Palavra de Deus fala muito sobre estes assuntos e não acho certo simplesmente dizermos "Senhor, não quero ouvir o que tens a dizer sobre isso, pois não considero este um assunto importante".

Outra razão é que a sua posição sobre uma doutrina pode afetar sua conduta prática. Por exemplo, por que é importante saber se o novo nascimento vem antes ou depois da fé? Porque isso pode afetar a forma como você evangeliza. Muitas pessoas acham que porque Deus está no controle de tudo, não precisam falar de Cristo, pois Ele vai salvar os eleitos de qualquer jeito. Outros acham, corretamente, que Deus usa o método da pregação para alcançar Seu propósito de salvar o pecador, mas não precisamos nos esforçar para convencer os outros da verdade, pois a pessoa só vai crer depois que nascer de novo, e isso é obra de Deus. Então, se eu comunicar suscintamente o evangelho e orar, já fiz tudo que precisava e estava ao meu alcance. Isto é uma "meia verdade". Muitas pessoas são ganhas pela persistência de um evangelista em tentar convencê-los. Paulo tentava persuadir as pessoas a aceitarem o evangelho:

At 19:8 - "E, entrando na sinagoga, falou ousadamente por espaço de três meses, disputando e persuadindo-os acerca do reino de Deus."

Embora quem convença as pessoas seja o Espírito Santo (Jo 16:8), Ele também usa a argumentação Bíblica no processo. Como John MacArthur, que se diz um calvinista pleno, coloca:

"Quando você dá seu testemunho você não diz: 'Um dia eu estava andando e fui subitamente salvo. Num momento eu não sabia o que era um Cristão e agora eu sou um deles.' Não é tão simples. Tem que haver um ato da sua vontade para a salvação acontecer...Você foi salvo conscientemente, como um ato de sua vontade. Porém, a Bíblia diz que a salvação é um ato soberano de Deus, planejado antes da fundação do mundo (Ef 1:4). Ambos são verdade...Deus soberanamente motiva a sua vontade, mas ela tem que ser ativada. Ele sabe o que vai acontecer e irá cumprir Sua vontade..." (tradução minha)

Voltando ao assunto do título deste post, se Deus vai levar os crentes ao céu e lançar os incrédulos no inferno, como pode-se dizer que Ele ama a todos e que Jesus morreu por todos? Deus vai mandar alguém que Ele ama pro inferno?

Alguns calvinistas respondem que Deus só ama os eleitos e odeia os demais:

Sl 11:5 - "O Senhor prova o justo; porém ao ímpio e ao que ama a violência odeia a sua alma."

Vemos, então, que a ira de Deus está sobre os ímpios. Mas a coisa é um pouco mais complexa do que parece. Por exemplo, este texto não quer dizer que a ira de Deus não estava sobre mim também antes de eu me converter:

Ef 2:3 – "...éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais."

Antes de nos convertermos, éramos tão filhos da ira quanto os demais. Depois que nos convertemos, nos tornamos filhos da luz. Ninguém nasce filho da luz, nem mesmo os eleitos.

Jo 3:36 – "Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece."

Entendo que a ira de Deus permanece sobre o que não crê, mas é removida daquele que crê. Note que esta ira não impede que Deus demonstre Seu amor aos pecadores. A ira está ligada ao fato de Deus ser justo e haver necessidade de pagamento por nossos pecados. Por outro lado, como Deus é amor (I Jo 4:16), misericordioso e tardio em irar-se (Jl 2:13), Ele enviou Seu Filho para pagar o preço (I Pe 2:24).

Outros calvinistas dizem que Deus ama todos, mas ama os eleitos de maneira especial. Deus manda bênçãos sobre justos e injustos, mas Jesus só morreu para pagar os pecados dos eleitos, e não de todas as pessoas. Isto é o que eles chamam de "expiação limitada". Segundo eles, os textos Bíblicos que dizem que Jesus morreu pelos pecados do mundo todo devem ser reinterpretados, pois a palavra "mundo" pode ter diferentes significados, dependendo do contexto. A idéia de um deus que quer salvar todos mas só consegue salvar alguns é inaceitável.

Jo 10:11 - "Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas."

Pelas ovelhas, não pelos bodes. Tudo bem, mas vamos checar isso mais a fundo. É fato que, na prática, o sangue de Jesus só paga pelos pecados dos que creem, até um arminiano aceita isto. Mas existe algo mais nessa história. Não vejo problema algum com o princípio de o sangue de Cristo tornar possível a salvação de qualquer homem. Este sangue deve ser oferecido a todos os homens, pois foi derramado por todos, e qualquer que quiser tem acesso a ele:

I Jo 2:2 – "E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo."

I Tm 2:4 – "Que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade."

I Tm 2:6 – "O qual se deu a si mesmo em preço de redenção por todos, para servir de testemunho a seu tempo."

I Tm 4:10 – "Porque para isto trabalhamos e lutamos, pois esperamos no Deus vivo, que é o Salvador de todos os homens, principalmente dos fiéis."

Deus é o salvador de todos os homens porque Ele oferece salvação como um presente a todos. Mas Ele é o salvador principalmente (ou efetivamente) dos fiéis porque eles aceitaram este presente. O sangue de Cristo é suficiente para todos, mas eficaz somente para os que creem. Neste sentido, posso concordar que Deus ama os crentes de uma maneira diferente, pois estes são Seus filhos adotivos (Ef 1:5). Deus os escolheu antes da fundação do mundo, como os calvinistas ensinam. Sendo assim, nenhum dos que Ele determinou que serão salvos irá se perder e, portanto, Deus continua soberano. Os outros se perdem por sua própria culpa, a despeito do chamado de Deus para a salvação. Mas Jesus veio também por eles.

Jo 1:11 – "Veio para o que era seu, e os seus não o receberam."

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Predestinação

Eu estava conversando com um hindu outro dia e ele disse que acredita em destino, que isso facilita a vida. "Se ocorreu alguma tragédia, não preciso me desesperar, pois isso foi a vontade de deus", disse ele. Claro que eu aproveitei para mostrar quem era o verdadeiro Deus e qual era a Sua vontade para a vida dele, mas é curioso notar que a idéia de um deus que controla tudo também está presente em religiões pagãs e é capaz de produzir certa paz interior. Por outro lado, a mesma idéia pode ser usada para tentar isentar os homens da responsabilidade por seus atos. Este é o clássico problema da soberania de Deus versus a responsabilidade do homem. Biblicamente, não podemos negar nenhum dos dois lados.

O calvinismo é uma forma de interpretar a Bíblia que leva em forte consideração a soberania de Deus em todos os aspectos da criação. Deus faz o que quer e Sua vontade sempre será cumprida:

Sl 115:3 - "Mas o nosso Deus está nos céus; fez tudo o que lhe agradou."

Sl 135:6 - "Tudo o que o Senhor quis, fez, nos céus e na terra, nos mares e em todos os abismos."

Ef 1:11 - "Nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados, conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade;"

Sendo Ele o criador e o Senhor, ninguém pode contestá-lO perguntando "por que nasci assim?", "por que aconteceu esta tragédia?", "por que Ele deixou a criança morrer de fome?" ou "por que Ele escolheu Jacó e não Esaú?". Certas respostas simplesmente não nos pertencem. O calvinismo tenta explicar a doutrina da salvação de maneira lógica e Bíblica, partindo da soberania de Deus. Existem diferentes pontos de vista entre os calvinistas e seria impossível comentar amplamente o assunto em um blog. Resumidamente, o calvinismo ensina que:

1 - Deus enviou Jesus ao mundo e ordena aos homens que se arrependam e creiam nEle;

2 - Como o homem natural não entende as coisas espirituais e seu coração é totalmente depravado, seu desejo não é voltado para as coisas de Deus, e consequentemente, se for depender apenas do seu próprio livre arbítrio, ninguém vem a Deus (Rm 3:10-11);

3 - Deus, então, escolheu incondicionalmente alguns para serem salvos, a fim de mostrar as riquezas da Sua graça (Rm 9:14-23). A estes Ele amou e predestinou para serem seus filhos adotivos (Ef 1:5).

4 - Aos que Ele predestinou, Ele também salvou, quebrantando seus corações e conduzindo-os a Jesus. Somente estes têm condição de crer no evangelho, pois tiveram sua vontade transformada pelo Espírito Santo:

Jo 6:65 - "E dizia: Por isso eu vos disse que ninguém pode vir a mim, se por meu Pai não lhe for concedido."

5 - Por outro lado, todo aquele que é tocado pelo Pai, é conduzido a Jesus de maneira irresistível:

Jo 6:37 - "Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora."

6 - Os que vêm a Jesus não perdem a salvação, mas perseveram até o final pelo poder de Cristo:

Jo 6:39 - "E a vontade do Pai que me enviou é esta: Que nenhum de todos aqueles que me deu se perca, mas que o ressuscite no último dia."

Jo 6:44 - "Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia."

7 - Como consequência de tudo isso, e considerando que Deus é soberano e faz tudo que lhe apraz, conclui-se que Jesus morreu para pagar pelos pecados apenas dos eleitos, e não pelos do mundo inteiro, pois se os pecados do mundo todo tivessem sido pagos, ninguém seria condenado.

Note que alguns calvinistas não negam a existência do livre arbítrio, como posso ter deixado transparecer no post sobre precognição. Eles negam que o livre arbítrio possa nos levar à salvação, pois o arbítrio está amarrado à vontade humana, e esta vontade é naturalmente contrária à vontade de Deus. Pela definição do dicionário Aurélio, livre arbítrio é o "poder, faculdade de decidir, de escolher, de determinar, dependente apenas da vontade". Em geral, os calvinistas preferem a expressão "livre agência" em vez de "livre arbítrio" nesse caso. Fica claro que a vontade humana precisa ser "quebrada" por Deus antes que possa haver salvação. Os calvinistas propõem a existência de uma graça irresistível, pela qual Deus transforma a vontade dos eleitos somente, o que é diferente da graça preveniente dos arminianos, pela qual Deus ilumina todas as pessoas, indiscriminadamente. Olhando a sequência de 7 pontos acima, o calvinismo parece ser algo lógico e bem fundamentado, apesar de talvez não ser uma descrição agradável para muitos. Existem, entretanto, algumas questões que geram divergência no meio calvinista e que merecem maior consideração, e vou comentar apenas uma delas neste post.

Primeiro, para que a graça irresistível funcione, o calvinismo ensina que o novo nascimento tem que ocorrer antes de a pessoa ter fé em Jesus. Isto porque a pessoa sem Cristo está morta em seus pecados, e um morto não faz nada sem que Jesus o ressuscite antes:

Ef 2:5 - "Estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos),"

Como John Piper coloca:

"Cremos que o novo nascimento é uma criação milagrosa de Deus que habilita uma pessoa que estava "morta" a receber Cristo e ser salva. Nós não achamos que a fé precede e causa o novo nascimento. A fé é uma evidência de que Deus nos regenerou." (tradução minha)

Ou ainda, conforme D. Steele e C. Thomas:

"O Espírito Santo cria dentro do pecador um novo coração ou uma nova criatura. Isto é feito por meio da regeneração ou novo nascimento, por meio do qual o pecador se torna um filho de Deus e recebe vida espiritual. Sua vontade é regenerada por este processo de tal forma que ele vem a Cristo..." ("Five Points of Calvinism Defended", tradução minha)

Logo, tem-se uma situação em que uma pessoa nasce de novo antes de receber Jesus como salvador. É regenerada primeiro e só depois vai crer em Cristo (isso do ponto de vista de causa e efeito, pois do ponto de vista cronológico, ambas as coisas ocorrem ao mesmo tempo). A pessoa é salva contra sua vontade. Essa teoria parece se chocar com os seguintes textos, que sugerem que a fé em Cristo seja condição para a salvação, e não consequência dela:

At 6:30b-31 - "...Senhores, que é necessário que eu faça para me salvar? E eles disseram: Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa."

Rm 10:9 - "A saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo."

Ef 2:8 - "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus."

Jo 1:12 - "Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome;"

Pode-se dizer que fomos eleitos incondicionalmente antes da fundação do mundo segundo o plano de Deus (Ef 1:5), mas o ato da salvação é condicional, somente os que crerem serão salvos. Mas só os eleitos acabam crendo.

Note que a maioria dos calvinistas interpreta "mortos em nossas ofensas" em Ef 2:5 como se o incrédulo fosse literalmente um cadáver, incapaz de responder a estímulos. Entendo que o incrédulo está "morto" no sentido de estar separado de Deus por causa do pecado (Ef 2:3), mas Deus pode iluminá-lo com a verdade e produzir a fé que resultará em salvação. Por mais irônico que seja, vou citar John Piper para explicar como isso pode ser:

"O que a soberania do Espírito significa é que quando Deus escolhe, ele pode vencer a rebelião e resistência da nossa vontade. Ele pode fazer Cristo parecer tão atrativo que nossa resistência é quebrada e nós livremente vamos a ele e o recebemos e cremos nele." ("The Free Will of the Wind", tradução minha)

Se é assim ou não que Deus convece o pecador eu não sei, a Bíblia não nos dá todas as respostas. Mas sei que, mesmo estando morto, você pode dar ouvidos à voz do Filho de Deus e receber a vida:

Jo 5:25 - "Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, e agora é, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão."

E você? Já deu ouvidos à voz de Jesus?

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Crise

Antes de comentar sobre Calvinismo, eu gostaria de detalhar um pouco mais um ponto importante do post passado, e que costuma gerar crise na maioria dos cristãos quando ouvem isso pela primeira vez. Já vi brigas ocorrendo dentro de igrejas por causa disso, mas é um assunto que está na mente de muitas pessoas e acho necessário abordá-lo. Eu disse que não consigo encontrar na Bíblia uma prova da idéia arminiana de que a graça preveniente faz com que todas as pessoas tenham a mesma chance de serem salvas. Um texto que exemplifica minha posição é o seguinte:

Mt 11:20-22 - "Então começou ele a lançar em rosto às cidades onde se operou a maior parte dos seus prodígios o não se haverem arrependido, dizendo: Ai de ti, Corazim! ai de ti, Betsaida! porque, se em Tiro e em Sidom fossem feitos os prodígios que em vós se fizeram, há muito que se teriam arrependido, com saco e com cinza. Por isso eu vos digo que haverá menos rigor para Tiro e Sidom, no dia do juízo, do que para vós."

Pergunta: se Tiro e Sidom teriam se arrependido se tivessem visto os milagres que Jesus praticou, por que Deus não fez os mesmos milagres lá? Corazim e Betsaida tiveram mais chance de se arrepender do que Tiro e Sidom (e mesmo assim não aproveitaram a chance). Deus é injusto? Longe de nós cogitar tal coisa. Deus não é obrigado a fazer milagre em lugar nenhum para que incrédulos creiam. Você não tem que ver para crer, mas "se creres, verás a glória de Deus" (Jo 11:40). Deus decide quando e onde vai fazer um milagre e ninguém é inocente diante dEle, pois todos pecaram.

- Mas, alguém dirá: "isso parece injusto!".

Resposta: Injustos somos nós. Rm 9:14 - "Que diremos pois? que há injustiça da parte de Deus? De maneira nenhuma."

- "Mas Ele tem que dar a mesma chance pra todo mundo!"

Resposta: Ele não tem que fazer nada, Ele faz o que quer: Rm 9:21-22 - "Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra? E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição;"

Não estou interpretando os textos, estou apenas citando. Às vezes é mais fácil fechar a Bíblia e não ler os textos que não se encaixam com minha percepção de como Deus deve ser. Mas eu prefiro me curvar diante da beleza da revelação da majestade de Deus. "Importa que Ele cresça e eu diminua".

Eu não entendo todas estas coisas, mas confio em Deus e sei que Ele vai fazer o que é certo. E se você também não entende, fique tranquilo, o apóstolo Pedro também achava algumas doutrinas bem difíceis nas cartas de Paulo:

II Pe 3:15-16 - "E tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor; como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada; Falando disto, como em todas as suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, e igualmente as outras Escrituras, para sua própria perdição".

Admito que existem muitas pessoas mais qualificadas do que eu para oferecer respostas às perguntas que tenho levantado. Se admito que não entendo, então por que comento sobre estes assuntos? Para que você não enlouqueça tentando usar sua mente finita para entender completamente um Deus infinito; para que você aceite o único e verdadeiro Deus, do jeito que Ele é revelado nas Escrituras; para que você aprenda a descansar em Deus, confiando nEle mesmo no escuro; porque confio no poder da Palavra de Deus e não posso escondê-la; porque só a revelação da soberania de Deus pode me dar a paz que preciso com relação à segurança da minha salvação; e principalmente, para aprendermos a não ir além do que está escrito na hora de tentar responder uma dúvida:

I Co 4:6 - "...para que em nós aprendais a não ir além do que está escrito..."

Mas não se iluda, você também não precisa compreender todos os desígnios de Deus para ser salvo. O que você precisa fazer é algo muito simples:

Rm 9:9 - "A saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo."

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Precognição

Você se lembra do filme "Minority Report", com Tom Cruise? É uma ficção policial em que os criminosos são presos antes mesmo de cometerem os crimes. O segredo? Três paranormais com a capacidade de prever o futuro com exatidão informam a polícia sobre os detalhes dos crimes. Sabemos que Deus tem essa capacidade, chamada precognição ou presciência, pois Ele é onisciente (sabe tudo). Algumas pessoas acham que ele não interfere diretamente no livre arbítrio humano, mas como sabe o futuro e o que está no coração do homem, age de maneira que Seus propósitos sejam alcançados. Por falta de um nome melhor, vamos chamar tais pessoas de "arminianianas" (Arminianismo, na verdade, compreende muito mais do que isso). Comparando com o teísmo aberto, discutido no post passado, imagine um jogo de xadrez entre Deus e o homem. Para o teísmo aberto, Deus é um grande enxadrista, capaz de calcular com perfeição todas as possibilidades para os próximos movimentos a serem tomados caso o homem mova uma de suas peças para esta ou aquela casa do tabuleiro. Ele não sabe o que o homem vai fazer, mas já tem todas as opções cobertas em Seu plano. Assim, Deus sempre ganha no final, pois é um melhor jogador, mas nem tudo está no controle dEle. O arminiano, por outro lado, enxerga Deus como um jogador que consegue ler os pensamentos do adversário (inclusive aqueles pensamentos que o homem ainda não teve). Deus não interfere nas ações do homem, mas como sabe todas elas de antemão, consegue traçar o plano da vitória antes mesmo da partida começar, e nada escapa do Seu controle.

Com relação à salvação, tal ponto de vista encontra base nas Escrituras:

Rm 8:29 - "Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos."

Segundo o arminianismo, Deus conheceu de antemão os que haviam de crer em Cristo para a salvação. A estes Ele predestinou para serem como Cristo. Veja também o texto abaixo, que destaca a presciência de Deus na eleição dos salvos:

I Pe 1:2 - "Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas."

Os arminianos, defensores da precognição, não têm problemas com o termo predestinação, apenas o usam de maneira distinta dos calvinistas. Calvinismo e predestinação são assuntos para o próximo post, mas adianto que, na minha opinião, nem o arminianismo nem o calvinismo merecem o rótulo de heresia, pelo menos em suas versões mais moderadas. Digo isso porque o assunto é complicado demais e não entendemos muito bem como tudo isso funciona, e prefiro ser humilde quanto às conclusões, me concentrando em enfatizar os pontos doutrinários dos quais eu acho que não podemos abrir mão.

A maior divergência entre calvinismo e arminianismo é com relação ao livre arbítrio do homem. Calvinistas negam totalmente o livre arbítrio e já vi alguns deles dizerem que ninguém pode "aceitar Jesus como salvador" para ser salvo, pois "aceitar" seria uma obra e a salvação é de graça. Eu pergunto: aceitar um presente é uma obra?!? Alguém vai se gloriar diante de Deus porque aceitou um presente?!? Não vejo nenhum problema com relação à doutrina da graça no arminianismo, a não ser no caso daqueles que acham que devem fazer obras para permanecerem salvos, mas isso é outro problema que já tratamos antes (ver A suficiência de Cristo e Perda da Salvação). Existem dois problemas básicos com o arminianismo:

1 - Existe um problema com a idéia de que o homem pode aceitar Jesus por livre e espontânea vontade. A questão é que a vontade do homem é corrompida e o homem em seu estado natural não entende a mensagem da salvação:

Rm 3:10-11 - "Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus."

I Co 2:14 - "Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente."

A solução encontrada pelos arminianos é conhecida como "graça preveniente", que é uma ação de Deus que permite que as pessoas usem seu livre arbítrio para escolher ou rejeitar a salvação oferecida em Jesus. É como se Deus removesse o véu que encobre o entendimento humano com relação às coisas espirituais:

At 16:14 - "E uma certa mulher, chamada Lídia, vendedora de púrpura, da cidade de Tiatira, e que servia a Deus, nos ouvia, e o Senhor lhe abriu o coração para que estivesse atenta ao que Paulo dizia."

É claro que sem esta ação de Deus os homens não vão crer, não importa o quanto se tente. Os arminianos acham que Deus derrama graça preveniente sobre todos os seres humanos, sem distinção, de maneira que todos têm a mesma chance de aceitar ou rejeitar a salvação. Assim, o destino final está nas mãos do homem, e não de Deus. Acho que é impossível encontrar na Bíblia uma base sólida para defender que a graça preveniente seja universal.

2 - O segundo problema é que o arminianismo desconsidera a soberania de Deus na salvação do homem. Mesmo supondo que a graça preveniente exista, ela não explica porque alguns aceitam e outros rejeitam o evangelho. Por que alguns solos são férteis e outros não? E por que alguns morrem sem nunca terem ouvido o evangelho? É necessário admitirmos que Deus é soberano quanto à criação, e portanto é soberano quanto à salvação. Afinal de contas, se Ele sabia que eu não aceitaria o evangelho, com livre arbítrio ou sem livre arbítrio, por que Ele me criou? Eu não pedi pra nascer!

Devemos admitir que as respostas estão além da nossa compreensão, e nos conformarmos com o que a Bíblia nos revela. Deus é amor e sabe o que faz; não age aleatoriamente mas tem um propósito de glorificar o Seu próprio nome; não é da nossa conta saber quais são os critérios que Ele usa em cada uma de Suas decisões.

Rm 9:22 - "Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim?"

Seja como for, nunca podemos negar a soberania de Deus. É ela que nos dá a tranquilidade de sabermos que se cremos em Cristo é porque Ele nos criou, amou, chamou, iluminou e nós aceitamos de boa vontade:

Ap 22:17b - "...E quem tem sede, venha; e quem quiser, tome de graça da água da vida."

Se você sente Deus te chamar, venha para Jesus e beba de graça da fonte de salvação.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Premonição

Premonição, precognição ou predestinação? O que você acha que se encaixa melhor com o papel de Deus na salvação? Deixe-me explicar melhor: como muitos sabem, já há séculos existe uma verdadeira "guerra civil" no meio cristão a respeito de como Deus faz para salvar as pessoas. Será que é Ele quem determina, em Sua soberania, quem vai ser salvo ou não, ou será que somos nós que determinamos isso baseados em nosso livre arbítrio? Existe um meio termo? A Bíblia traz respostas conclusivas sobre isso?

Antes de comentar sobre a salvação, precisamos gastar algum tempo para esclarecer os 3 termos:

1) Premonição: Acontecimento ou experiência tomados como sinal de que algo vai acontecer (presságio). Forte sensação de que algo está prestes a acontecer (pressentimento) (dicionário Priberam).

2) Precognição: Conhecimento antecipado; presciência (dicionário Priberam).

3) Predestinação: O propósito de Deus desde os tempos da eternidade com respeito a todos os eventos; especialmente, a preordenação dos homens para felicidade ou miséria eternas (dicionário Noah Webster, tradução minha).

Em outras palavras: 1 - Deus tem uma idéia do que vai acontecer no futuro, mas não sabe ao certo tudo (não é onisciente); 2 - Deus sabe exatamente o que vai acontecer no futuro e age de acordo; 3 - Deus não só sabe, como determina tudo o que vai acontecer. A primeira opção parece um monstrengo, mas na verdade tem gente que acredita nisso. São os defensores do "Teísmo Aberto" ou sua forma mais moderada, a "Teologia Relacional". Conforme o Teísmo aberto, Deus tem um plano para a humanidade, mas este plano não prevê tudo o que vai acontecer. Deus se adapta de acordo com as circunstâncias, e age de acordo com o livre arbítrio humano. A Teologia Relacional defende que Deus não interfere nas escolhas de suas criaturas, mas apenas se relaciona com elas. Os dois maiores defensores da teologia relacional no Brasil são os pastores Ricardo Gondim e Ed René Kivitz, e talvez seja melhor usar suas próprias palavras para explicar essa teologia. Ricardo Godim diz (fonte):

"Não consigo acreditar numa divindade que tudo ordena, que tudo dispõe e que tudo orquestra...Não creio que ele tenha uma "vontade permissiva" que deixa que horrores se alastrarem (sic) para subrepiticiamente cumprir uma 'vontade soberna' (sic). Não o percebo com começo, meio e fim da história prontos; ou que no presente esteja contente em administrar cada nano evento preordenado em sua providência."

Ou seja, ele afirma que a história não tem começo, meio e fim prontos, mas se desenrola de acordo com o livre arbítrio do homem. Como pode, então, Deus saber o futuro com precisão? O teísmo aberto diz que Ele não sabe; a teologia relacional prefere se omitir.

Ed René Kivitz completa (fonte):

"Essa coisa de 'Deus tem um plano para cada criatura' é incoerente em relação à fé cristã, pois seres criados à imagem e semelhança de Deus não podem ser privados da liberdade. Ou os seres humanos são responsáveis pelos seus destinos, ou não podem ser julgados moralmente".

A conclusão destes pastores é motivada pela dificuldade em conciliar a idéia de um Deus todo poderoso e plenamente soberano com a idéia de seres humanos totalmente livres e responsáveis por seus atos. Em suma, dada a dificuldade de se explicar porque coisas ruins acontecem com pessoas "boas" e "inocentes", tem-se a tendência de negar a mão de Deus sobre tais acontecimentos. Por mais difícil que seja o assunto, qualquer tentativa de explicação que negue a soberania de Deus ou a responsabilidade humana acaba desembocando em heresias. Devemos admitir o mistério nestas questões e nos curvar ao que diz a Bíblia:

Dt 32:39 - "Vede agora que eu, eu o sou, e mais nenhum deus há além de mim; eu mato, e eu faço viver; eu firo, e eu saro, e ninguém há que escape da minha mão."

Jó 2:10b - "...receberemos o bem de Deus, e não receberíamos o mal? Em tudo isto não pecou Jó com os seus lábios."

Is 46:9b-10 - "... eu sou Deus, e não há outro Deus, não há outro semelhante a mim. Que anuncio o fim desde o princípio, e desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam; que digo: O meu conselho será firme, e farei toda a minha vontade."

Sl 139:16 - "Os teus olhos viram o meu corpo ainda informe; e no teu livro todas estas coisas foram escritas; as quais em continuação foram formadas, quando nem ainda uma delas havia."

Rm 8:28 - "E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito."

Descanse. Você não precisa entender todas as coisas, mas pode confiar que a mão de Deus está em todas elas para o seu bem e para honra e glória do Seu nome. Ele, de fato, está no controle.

Uma vez descartada a premonição, podemos explorar a doutrina da salvação com as duas opções que nos restaram: precognição e predestinação.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Uma fé morta

Como temos visto repetidas vezes, a salvação é somente pela graça, mediante a fé, somente. Como nunca poderemos ser justos o bastante para merecermos o céu, Deus nos imputa Sua justiça:

Rm 4:3 - "Pois, que diz a Escritura? Creu Abraão a Deus, e isso lhe foi imputado como justiça"

Mas, compare o texto de Rm 4 com os seguintes:

Tg 2:14 - "Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as obras? Porventura a fé pode salvá-lo?"

Tg. 2:20-22 - "Mas, ó homem vão, queres tu saber que a fé sem as obras é morta? Porventura o nosso pai Abraão não foi justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque? Bem vês que a fé cooperou com as suas obras, e que pelas obras a fé foi aperfeiçoada."

A impressão que temos é que Tiago quer contrariar Paulo abertamente. Em face desse texto, muitos têm tido crises com a doutrina da salvação. Nesse caso, temos três alternativas:

1 - Jogar fora o resto da Bíblia, que contradiz Tiago;

2 - Jogar fora Tiago, que contradiz o resto da Bíblia;

3 - Interpretar Tiago de maneira que não contradiga o resto da Bíblia.

Não sei quanto a você, mas eu não estou disposto a seguir nenhuma das 2 primeiras alternativas. Como creio na autoria do Espírito Santo para todos os livros das Escrituras, devo seguir uma regra básica de Hermenêutica: os textos mais obscuros devem ser entendidos à luz dos textos mais claros, pois as Escrituras não podem se contradizer. Então, provavelmente Tiago quer enfatizar algo diferente do que Paulo.

Mesmo tentando conciliar os textos, é possível se perder em meio às interpretações. Um ortodoxo grego me disse uma vez que "você tem que ler Paulo junto com Tiago". Mas o que ele queria dizer é que para alcançarmos a salvação devemos ter a fé (como Paulo ensina) e também praticar boas obras (como Tiago ensina). Mas isso ignora o fato de que Paulo proíbe a idéia de obras como requisito para a salvação:

Rm 11:6 - "Mas se é por graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça. Se, porém, é pelas obras, já não é mais graça; de outra maneira a obra já não é obra."

Ou um ou outro. Não dá pra misturar os dois. Uma interpretação de Tiago 2, popular no meio evangélico, diz que a fé que salva é uma fé que produz obras. Se você diz que tem fé, mas não tem obras, então você não tem a fé verdadeira. Mas, vamos tentar esclarecer melhor isso, pois existem algumas dúvidas. Por exemplo, quantas obras são necessárias para que eu me considere salvo, ou possuidor da fé salvadora? Todo mundo, por mais ímpio que seja, tem algumas boas obras. Deixo bem claro que eu creio que o verdadeiro crente vai frutificar, a 30, 60 ou 100 por 1, mas esses frutos podem ser difíceis de se perceber em algumas pessoas e isso é muito subjetivo para servir de base para estabelecer a doutrina da salvação.

Creio que Tiago tem algo muito importante para dizer aos crentes. Note que, na carta, Tiago refere-se aos leitores como "irmãos", e ainda:

Tg 1:18 - "Segundo a sua vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como primícias das suas criaturas."

Após estabelecer o fato de que somos gerados pela palavra da verdade (de graça), ele segue com uma coleção de exortações, que incluem a caridade. Estas exortações não têm nada a ver com o que precisamos fazer para receber a vida eterna. Ele quer que haja coerência entre o que falamos e o que fazemos. Ele não está explicando o que você precisa fazer para ser salvo, mas sim o que você precisa fazer se você diz que é salvo. Dentro desta exortação, não se exclue a validade de alguém perguntar a si mesmo se realmente entendeu o evangelho, pois o novo nascimento produz mudança de vida. Mas, em princípio, Tiago não está ensinando como ser salvo, nem tem a intenção de contradizer o ensino de Paulo. O texto serve de alerta para três classes de pessoas:

1 - A pessoa que DIZ que tem fé (v. 14), mas na verdade não tem, e está perdida;

2 - A pessoa que crê que Deus é um só (v. 19), o que não quer dizer muita coisa, pois até os demônios e algumas religiões pagãs crêem. Crer que Deus é um só não é a mesma coisa que confiar em Jesus como seu único e suficiente salvador;

3 - A pessoa que crê no evangelho, mas como não leva uma vida de obediêcia a Deus, sua fé não tem proveito prático (v. 16).

É como se ele estivesse dizendo: "eu não sei se vocês são salvos ou não. Não me diga que você tem fé, mostre-me que você tem fé. Eu não vejo o coração, mas vejo as obras, e por elas você não parece salvo. Pode ser que você não seja, porque se você somente professou a fé e fez uma oração de conversão, mas não houve nenhuma mudança no seu coração, apenas religiosidade externa, não houve novo nascimento. Acreditar em alguns fatos sobre Deus e ser batizado não significa que você confiou pessoalmente em Jesus como salvador. Por outro lado, se você realmente se converteu, não pode viver como se fosse um corpo sem espírito. Deve mostrar a fé que tem, como Abraão fez, sendo justificado pelas obras."

Como assim, justificado pelas obras? Somos considerados justos perante Deus pela fé para salvação da alma, mas somos considerados justos perante os homens pelas obras para demonstrar a salvação. Assim, as obras aperfeiçoam a fé.

Conclusão: pratique as obras diligentemente, mas nunca confie nelas para ser salvo.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Perda da Salvação

Mt 10:28 - "E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo."

Certa vez, um amigo meu usou o versículo acima para explicar que o crente pode perder a salvação. Afinal de contas, Jesus estava falando com os discípulos, que eram crentes, e se até eles deveriam ter medo de ir para o inferno, nós também devemos. Este meu amigo dizia que precisava crer na perda da salvação, pois era a única coisa que mantinha ele perto de Deus em momentos de tentação. Infelizmente, este temor não o ajudou muito, uma vez que ele acabou se entregando ao vício da bebida e se divorciando, além de passar algumas noites na cadeia em consequência do vício. Mas, afinal, o que Jesus quis dizer? Pelo contexto, Jesus estava falando para os discípulos que eles deviam esperar perseguição por causa do evangelho, mas que eles não temessem os homens, pois o máximo que eles podem fazer é destruir o corpo. Devemos temer Deus, que tem poder sobre os corpos e almas dos homens. Isso não significa que o crente pode perder a salvação, pois isso contrariaria todos os textos que apresentei no último post, e as Escrituras não podem se contradizer. Mas sabemos que várias vezes a Bíblia nos chama a uma auto-avaliação para nos certificarmos de que estamos realmente no caminho certo, o caminho estreito (lembre-se de que Judas Iscariotes estava entre os doze, o que não significa que ele era salvo). Note o texto abaixo:

"Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade.", Mt 7:21-23

Estas pessoas confessavam que Jesus é Senhor, profetizavam e expulsavam demônios em nome do Senhor, mas serão lançadas no inferno porque não fizeram a vontade do Senhor. Isso pode, à primeira vista, dar a impressão de que a fé em Jesus não é suficiente para salvar. O mais importante é fazer a vontade de Deus. No entanto, algumas coisas precisam ser notadas antes de concluir que tais pessoas eram cristãs verdadeiras que perderam a salvação por falta de boas obras:

1 - O fato de que elas clamavam "Senhor, Senhor" não significa que confiavam em Jesus como seu único e suficiente salvador. Admiração por Jesus e uso de linguagem cristã não faz de ninguém um crente. No contexto judaico, não é claro se tais pessoas acreditavam que Jesus era o Messias, pode ser que o reconhecessem apenas como profeta.

2 - Quem é "aquele que faz a vontade de meu Pai"? Note o texto abaixo:

"Disseram-lhe, pois: Que faremos para executarmos as obras de Deus? Jesus respondeu, e disse-lhes: A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que ele enviou." Jo 6:28-29

A vontade do Pai consistia em crer que Jesus era o Messias e responder de acordo.

3 - Sabemos que os tais profetas não aceitaram o Messias, pois Jesus diz "NUNCA vos conheci". Ele não diz "não vos conheço" ou "eu vos conhecia, mas não conheço mais". Eles NUNCA aceitaram o messias.

Ninguém é salvo porque vai à igreja, canta "Senhor te quero..." ou participa de "sessão de descarrego". As pessoas que Jesus menciona são claramente joio no meio do trigo.

Um outro caso é descrito por Pedro:

"Porquanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo, pelo conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, forem outra vez envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior do que o primeiro. Porque melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça, do que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado; Deste modo sobreveio-lhes o que por um verdadeiro provérbio se diz: O cão voltou ao seu próprio vômito, e a porca lavada ao espojadouro de lama." II Pe 2:20-22

Achar que o texto acima se refere à perda da salvação significa chamar o crente de cachorro ou porca. Você que é crente, se considera uma "porca lavada"? Você acha que Deus te chama de cachorro? Não creio que estas pessoas sejam crentes. Nunca nasceram de novo, foram apenas iluminados pelo conhecimento do evangelho, mas decidiram rejeitá-lo e retornar ao seu estado anterior no lamaçal. Desta forma, melhor seria que nunca tivessem ouvido o evangelho, pois antes estavam perdidos sem ouvir o evangelho, mas agora estão perdidos tendo rejeitado o evangelho. Maior juízo virá sobre eles, pois " o servo que soube a vontade do seu senhor, e não se aprontou, nem fez conforme a sua vontade, será castigado com muitos açoites; Mas o que a não soube, e fez coisas dignas de açoites, com poucos açoites será castigado. E, a qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou, muito mais se lhe pedirá." Lc 12:47-48

É difícil compreender o que se passa na cabeça de um apóstata, mas certamente "Saíram de nós, mas não eram de nós; porque, se fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se manifestasse que não são todos de nós." I Jo 2:19

Resta-nos saber quais são as consequências de uma fé sem obras. Isso encontramos na epístola de Tiago...

terça-feira, 1 de setembro de 2009

"Faça" ou "feito"?

O texto de Rm 4:3-8, comentado no último post, é um dos mais claros a respeito da justificação pela fé. Existem algumas passagens bíblicas que podem causar confusão com relação a este assunto, mas estas serão abordadas no futuro, se Deus permitir. Na verdade, o assunto é tão controverso e fundamental que pode-se dividir as religiões do mundo em dois grupos: A religião do "faça" e a religião do "feito". Por um lado, todas as religiões que dizem ser necessário ao homem fazer algo para alcançar ou merecer a salvação. Por outro lado, a religião que diz que a obra redentora já foi feita na cruz; "está consumado", não há nada que eu ou você possamos fazer para complementar o sacrifício de Cristo na cruz. Ele é perfeito e perfeitamente capaz de justificá-lo diante de Deus, se você tão somente crer. A salvação não depende de seus esforços para cumprir a Lei de Deus, nem de seus votos de fidelidade ou do quanto você ama Deus. A salvação é obra do SENHOR, não sua. Apenas receba:

Jo 1:12-13 - "Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome; Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus."

Certa vez, após expor o evangelho da graça na igreja, me perguntaram: "mas então por que se diz que o caminho é estreito? Se é só crer, então é muito fácil". Minha resposta foi que o caminho é estreito não por ser muito difícil, mas por ser muito simples. Poucos acreditam nele. A religião do faça faz mais sentido para a mente do homem natural do que a religião do feito. A lógica humana nos diz que precisamos fazer algo para merecer a salvação. Nossa carne gosta de se gloriar diante de Deus. A religião do feito diz que Deus foi humilhado na cruz para pagar TODO o preço por nossos pecados, o que é "escândalo para os judeus, e loucura para os gregos" (I Co 1:23).

A segurança dos crentes é garantida pelas palavras de Jesus:

Jo 6:37-40 - "Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora. Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. E a vontade do Pai que me enviou é esta: Que nenhum de todos aqueles que me deu se perca, mas que o ressuscite no último dia. Porquanto a vontade daquele que me enviou é esta: Que todo aquele que vê o Filho, e crê nele, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia."

Jo 6:47 - "Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim tem a vida eterna."

O que vem a Cristo não será lançado fora. É promessa de Cristo. Esta é a missão dEle, e Ele não falha! Se você olhar para Jesus e crer nEle, será salvo e ressuscitado no último dia. Será filho de Deus e nova criatura (II Co 5:17). Você se tornou nova criatura pela fé, não pode se tornar velha criatura de novo pelas obras (apesar de que você pode agir como se fosse velha criatura). Nada pode te afastar do amor de Deus:

Rm 8:38-39 -"Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, Nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor."

Então, posso pecar? A resposta está nos textos que são erroneamente interpretados como sendo referentes à perda da salvação.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

A suficiência de Cristo

Tendo concluído que fé em Jesus é condição necessária para a salvação, resta-nos saber se esta condição é também suficiente. Em outras palavras, precisamos crer em Cristo para sermos salvos, mas basta crer ou algo mais é necessário? A maioria das pessoas acredita que a salvação é uma cooperação entre Deus e os homens. "Jesus fez Sua parte na cruz, agora temos que fazer a nossa", é o que dizem. O que envolve a nossa parte varia de acordo com a religião: alguns afirmam ser necessário cumprir uma série de sacramentos: batismo, confissão, eucaristia, etc. Além dos sacramentos, a caridade teria papel importante no destino das almas e alguns incluiriam o culto aos santos. Muitos ensinam que uma pessoa nunca pode estar absolutamente certa de sua salvação, pois você deve sempre estar se esforçando para merecer a salvação. Outros ensinam que você pode estar 100% salvo em um dado momento, mas pode perder esta salvação se cair em pecado. De um jeito ou de outro, a segurança da salvação residiria em uma combinação de fé e obras. Parte de sua confiança é depositada em Cristo, parte em seus próprios esforços, sem os quais você está perdido. É possível afirmar que este é o ensino prevalente nas chamadas igrejas cristãs no Brasil hoje em dia, sejam elas católicas romanas ou evangélicas, apesar de haver claras variações no ensino de cada igreja.

Uma questão surge naturalmente neste contexto: quantas boas obras eu tenho que praticar para merecer a salvação? Ou, quantos pecados preciso cometer para perdê-la? A igreja de Roma lidou com este problema definindo dois tipos de pecados: pecados mortais e pecados veniais. Note os seguintes parágrafos, extraídos do Catecismo da Igreja Católica:

§1862
"Comete-se um pecado venial quando não se observa, em matéria leve, a medida prescrita pela lei moral, ou então quando se desobedece à lei moral em matéria grave, mas sem pleno conhecimento ou sem pleno consentimento."

§1863
"O pecado venial enfraquece a caridade; traduz uma afeição desordenada pelos bens criados; impede o progresso da alma no exercício das virtudes e a prática do bem moral; merece penas temporais."

§1874
"Escolher deliberadamente, isto é, sabendo e querendo, uma coisa gravemente contrária à lei divina e ao fim último do homem é cometer pecado mortal. Este destrói em nós a caridade, sem a qual é impossível a bem-aventurança eterna. Caso não haja arrependimento, o pecado mortal acarreta a morte eterna."

§1861
"O pecado mortal é uma possibilidade radical da liberdade humana, como o próprio amor. Acarreta a perda da caridade e a privação da graça santificante, isto é, do estado de graça. Se este estado não for recuperado mediante o arrependimento e o perdão de Deus, causa a exclusão do Reino de Cristo e a morte eterna no inferno"

§1856
"O pecado mortal, atacando em nós o princípio vital, que é a caridade, exige uma nova iniciativa da misericórdia de Deus e uma conversão do coração, que se realiza normalmente no sacramento da Reconciliação"

Note a semelhança das frases acima com o ensino de algumas igrejas evangélicas que crêem na possibilidade de perda da salvação. Mas, o que diz a Bíblia sobre isso? É possível perder a graça de Deus? Se isso acontecer, é possível se reconverter para receber a vida eterna novamente?

Se tomarmos como padrão a Lei de Deus, Tg 2:10 diz: "Porque qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos." Culpado de todos no sentido de ser considerado transgressor da Lei. Qualquer pecado que cometemos é suficiente para nos lembrar de quem realmente somos: pecadores. Nosso problema não é a quantidade ou gravidade dos pecados que praticamos. Nosso problema é que somos pecadores, e isso basta para nos afastar de Deus. Em nenhum lugar das Escrituras está escrito que podemos apagar pecados com boas obras. A única coisa que apaga nossos pecados é o sangue de Cristo. É isso que a Bíblia chama de propiciação, que será assunto de outro post.

O tema da segurança dos salvos é amplo e polêmico, e devo tratar mais sobre ele em outros posts. Por hora, deixo apenas 1 texto bíblico para meditação:

Rm 4:3-8 - "Pois, que diz a Escritura? Creu Abraão a Deus, e isso lhe foi imputado como justiça. Ora, àquele que faz qualquer obra não lhe é imputado o galardão segundo a graça, mas segundo a dívida. Mas, àquele que não pratica, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça. Assim também Davi declara bem-aventurado o homem a quem Deus imputa a justiça sem as obras, dizendo: Bem-aventurados aqueles cujas maldades são perdoadas, E cujos pecados são cobertos. Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa o pecado."

O texto é claro. Se você crer, será justificado diante de Deus, mesmo sem obras. Essa promessa não é só para quem pecar pouco, mas para os ímpios (do grego asebes: irreverentes, perversos, sem Deus). Suas maldades (Gr. anomia: perversidades, transgressões da Lei, iniqüidades) são perdoadas. Deus justifica o ímpio se ele crer. Nenhum pecado lhe é imputado. Está puro, santo, sem dívida nenhuma para com Deus. Por quê? Só porque creu.

Isso nos dá uma licença para pecar?

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Inclusivismo

Continuando o assunto do último "post" deste blog, eu gostaria de dar um pouco mais de atenção ao inclusivismo, ou seja, a doutrina de que apesar de a salvação ter-se tornado possível por Jesus Cristo, não é necessário conhecer Jesus ou o que Ele fez para ser salvo. Assim, a salvação poderia ser encontrada no Budismo, Hiduismo, Islamismo, etc. Isso pressupõe que o deus (ou, pelo menos, o deus supremo) destas religiões é o mesmo Deus da Bíblia. Mas quem é o Deus da Bíblia? Ele se revelou como o "Deus de Abraão, Isaque e Jacó" (Ex. 3:6). Em certo ponto da história, aprouve a Deus revelar-se ao mundo por meio da nação de Israel, como disse Jesus à mulher samaritana:

Jo 4:22 - "Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus."

Qual é o sentido de Ex 20:3 - "Não terás outros deuses diante de mim", se não sabemos a diferença entre Deus e os deuses pagãos? O Deus de Israel, que até os judeus, em sua maioria, rejeitam, é aquele que é Pai de Jesus Cristo, que é em "forma de Deus" e "igual a Deus" (Fp 2:6, Jo 1:1) e em quem "habita corporalmente toda a plenitude da divindade" (Cl 2:9). Esse mesmo Deus enviou Seu Filho para ser punido na cruz por nossos pecados. Se seu deus não fez isso, ele não é Deus.

Mc 14:61-62 - "...O sumo sacerdote lhe tornou a perguntar, e disse-lhe: És tu o Cristo, Filho do Deus Bendito? E Jesus disse-lhe: Eu o sou, e vereis o Filho do homem assentado à direita do poder de Deus, e vindo sobre as nuvens do céu."

Os pagãos precisam conhecer esse Deus para serem salvos. Como o Dr. Mal Couch costuma dizer, "Deus é 100% soberano e o homem é 100% responsável" (ver http://scofieldministries.blogspot.com/). Ele mesmo admite que não consegue entender isso, mas é o que a Bíblia proclama de Gênesis a Apocalipse. Conforme Paulo coloca em Romanos 1, os homens são responsáveis por verem Deus na natureza, mas essa revelação só serve para condená-los, uma vez que nenhum homem se conforma com os padrões morais de Deus. A conclusão?

Rm 3:10-12 - "Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só."

Não somos juízes das almas, apenas comunicamos a sentença já determinada pelo Juiz. A humanidade está separada de Deus e não quer segui-lo. São mortos que precisam nascer de novo. Se o Espírito Santo de Deus não intervier por meio da pregação do Evangelho de Cristo, o homem não pode fazer nada.

Rm 10:17 - "De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus."
I Co 1:21 - "Visto como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação."

Não existe plano B, é fé em Jesus ou nada:

Jo 11:25-26 - "Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; E todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá. Crês tu isto?"

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Alargando a porta estreita

Uma vez convencidos de que Cristo morreu pra nos salvar, o que mais é necessário para chegarmos ao Céu? Sua morte é suficiente para salvar a todos? A salvação é uma obra de Deus, do homem ou uma colaboração entre Deus e o homem? Uma vez salvo, salvo para sempre? Estas e outras questões ligadas à Soteriologia (estudo da doutrina da salvação) têm sido motivo de calorosas discussões no meio cristão há séculos. Nosso objetivo neste blog não é entrar em detalhes teológicos, mas expor as respostas Bíblicas para dúvidas básicas e de importância fundamental.

Primeramente, não basta crer que Jesus salva, mas é importante ter convicção de que só Cristo salva:

Jo. 14:6 - "Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim."
At. 4:12 - "E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos."

O cristianismo é exclusivista por natureza. Não existe salvação em nenhuma outra crença. Este é um fato que não podemos negligenciar, mesmo sob o risco de perdermos a simpatia dos outros. Minha esposa e eu tivemos uma vizinha que sofria com problemas de depressão e solidão. Fomos visitá-la algumas vezes para confortá-la e falar sobre Jesus. Ela não gostava de ouvir sobre Jesus e sempre dizia que estava lendo o alcorão e considerando a possibilidade de se tornar muçulmana. Certa vez, a convidamos para um passeio junto com alguns amigos da igreja. Ela reclamou o tempo todo e no final, quando estava sendo levada de carona para casa começou a falar mal do cristianismo. Tive que interrompê-la para mostrar, com amor, que a salvação era somente por Jesus. Ela disse que eu deveria dizer isso aos mais de 1 bilhão de muçulmanos que existem no mundo. Retruquei que sentimos muito por eles, pois estão indo para o inferno. Ela ficou quieta. Confesso que não tenho dom pra evangelismo, mas as pessoas precisam saber para onde estão indo após a morte, os cristãos sabem a resposta e têm vergonha de comunicar (na maioria das vezes, eu me incluo como alvo desta exortação). Não existe meio termo, é Jesus ou nada:

Jo. 3:18 - "Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus."

Mas, alguém dirá: "como então se salvam aqueles que nunca ouviram falar de Jesus?" Por não se satisfazerem com a resposta Bíblica para esta pergunta, os chamados "inclusivistas" crêem que Deus vai salvar os "bons" de todas as religiões. Os "universalistas" dizem que todos irão ser salvos, pois Cristo morreu por todos. Basta ler o texto acima (Jo. 3:18) e também Jo. 3:16 para saber que somente os que crerem em Jesus serão salvos. Não nos compete alterar as Escrituras para torná-las mais facilmente aceitáveis. O que acontece com os que não ouviram o evangelho?

Rm 10:13-14 - "Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue?"

A conclusão lógica é que todos os povos pagãos estão perdidos, pois não invocaram aquele em quem não creram. Injusto? Não, um juiz nunca é injusto por condenar criminosos (mais sobre isto em um próximo post). Se não acreditarmos nesse fato, nunca mais mandaremos missionários para evangelizá-los. Melhor deixar que eles se salvem de outro jeito.

sábado, 25 de julho de 2009

Você é salvo?

Se você morrer esta noite, você irá para o Céu?

Por alguma razão as pessoas em geral têm a tendência de se desligar das coisas mais importantes da vida para se ligarem nas supérfluas. Gastam todo o tempo trabalhando, dormindo, comendo, se exercitando e nas horas vagas assistem televisão. Toda a atenção está voltada para o que satisfaz os sentidos no presente ou no futuro próximo. Pouco ou nada é dedicado à principal questão da vida: para onde irei depois da morte?

Tendo ciência do descaso que o homem atual demonstra pela religião, muitas igrejas têm mudado sua abordagem para conversão de almas. Muitas vezes os pregadores tentam atrair as pessoas à fé em Jesus oferecendo coisas que as pessoas sabem que precisam, ou que gostariam de ouvir. Algumas destas coisas são verdadeiras, mas não revelam a razão primária pela qual Jesus morreu, o que costuma levar a uma falta de compreensão da doutrina da salvação, com possíveis efeitos desastrosos no destino eterno das almas. Jesus não morreu na cruz apenas para preencher um "vazio interior" nas pessoas. Jesus não morreu primeiramente para te fazer mais feliz, ou para que você tenha mais saúde, mais dinheiro ou um casamento melhor. Tão pouco para que você encontre propósito na sua vida. Certamente, Ele também não morreu na cruz só para dar um exemplo para nós (I Pe 2:21). Embora haja verdade em muitas destas razões, a Bíblia deixa claro o motivo fundamental para a morte de Cristo,

I Tm 1:15 - "Esta é uma palavra fiel, e digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal".

Vemos que o Filho do Homem veio salvar o que se havia perdido. Compare esta frase do Apóstolo Paulo com o que diz uma popular estampa de camiseta "gospel":

"Deus prefere morrer por mim do que viver sem mim".

Nas palavras do apóstolo, somos pecadores e precisamos de Cristo para sermos salvos. Na camiseta gospel, sou o máximo e Deus precisa de mim para não se sentir sozinho. Um glorifica o Salvador, o outro a criatura.

Tenho visto em diferentes igrejas pastores fazendo apelos e levando pessoas a tomarem uma decisão por Jesus, sem antes terem explicado o que isso significa. Ouvir 1 hora de louvor e depois uma pregação motivacional não explica porque Cristo morreu numa cruz, e portanto, dificilmente capacita um pecador a tomar uma decisão consciente. Se você perguntar nas igrejas evangélicas se as pessoas acreditam que Jesus é o salvador, deve obter perto de 100% de respostas positivas. Mas experimente perguntar o que é preciso fazer para alguém ir para o céu e você se surpreenderá com a falta de clareza e objetividade nas respostas. Aliás, o próprio conceito de salvação tem perdido o sentido ultimamente. Lembro-me de ter participado de um curso de introdução ao Cristianismo em uma igreja Batista na Austrália em 2002. Tratava-se do "Curso Alpha", um curso bastante difundido nos países do Reino Unido e Commonwealth. Após 12 horas de vídeos com palestras sobre as doutrinas da fé cristã, comentei que achava estranho que o curso sequer mencionasse o inferno. Me disseram que era para não assustar as pessoas, que as pessoas devem vir a Cristo por amor e não pelo motivo errado, ou seja, por medo de irem para o inferno. Comentei que não entendia porque isso seria um motivo errado. Se fosse, Jesus não teria falado tanto sobre o inferno. O próprio temor a Deus está ligado com o temor do juízo de Deus,

Luc 12:5 - "Mas eu vos mostrarei a quem deveis temer; temei aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno; sim, vos digo, a esse temei."

O problema é que se as igrejas pararem de falar sobre o inferno as pessoas não saberão mais do que estão sendo salvas. Precisamos colocar a cruz de volta nas mensagens evangelísticas.

E você, sabe o que é necessário para ser salvo?