sexta-feira, 11 de novembro de 2011

As festas do SENHOR

No post "O Israel de Deus"  eu argumentei que o povo de Israel é, em si mesmo, uma das grandes evidências de que a Bíblia é verdadeira, devido ao cumprimento de suas promessas e profecias sobre a nação escolhida. Uma vez que se aprecie este fato, abrem-se os olhos para o entendimento do plano que Deus tem para o mundo em todas as épocas. A Israel foram dados inicialmente os oráculos de Deus e nestes oráculos revelam-se de maneira impressionante os principais eventos do futuro do planeta, em particular no que se refere ao plano de redenção. Uma das chaves para entender este plano são as festas do SENHOR.

As festas do SENHOR a que me refiro são as 7 celebrações anuais, entregues como ordenança ao povo de Israel. Quatro delas celebradas na primavera e três no outono. Elas são descritas, entre outros lugares, no capítulo 23 de Levítico. A maioria das pessoas acha Levítico um livro cansativo, mas ele sempre foi um dos meus livros favoritos na Bíblia. Talvez porque eu seja fascinado pela doutrina da expiação pelo sangue. "A vida está no sangue", e este é para expiação pela alma (Lv 17:11). Todas as 7 festas judaicas eram banhadas de sangue de cordeiros e outros animais. São elas:

1) A Páscoa (Lv 23:5; Ex 12:3-11), onde cada família deveria ofertar e comer 1 cordeiro;

2) A Festa dos Pães Ázimos (Lv 23:6-8; Nm 28:19), onde eram sacrificados 2 novilhos, 1 carneiro, 7 cordeiros, 1 bode, além do holocausto contínuo;

3) A Festa das Primícias (Lv 23:9-14; Lv 23:12), com 1 cordeiro sacrificado;

4) A Festa das Semanas (ou Pentecostes) (Lv 23:15-22; Nm 28:27), 7 cordeiros, 1 novilho, 2 carneiros, 1 bode e mais 2 cordeiros;

5) A Festa das Trombetas (Lv 23:23-25; Nm 29:2-5),  1 novilho, 1 carneiro, 7 cordeiros, 1 bode;

6) O Dia da Expiação (Lv 23:26-32; Nm 29:8), 1 novilho, 1 carneiro, 7 cordeiros, 1 bode;

7) A Festa dos Tabernáculos (Lv 23:33-43; Nm 29:38), 14 carneiros, 98 cordeiros, 70 novilhos, 7 bodes (isso é que é Festa!).

As quatro primeiras festas simbolizam eventos que se cumpriram na primeira vinda do Messias ao mundo. As três últimas se cumprirão na Sua segunda vinda. Em posts futuros eu vou tentar convencê-los disso, além de tentar deixar claro que a Bíblia definitivamente ensina o pré-milenismo. Por hora, vou apenas comentar a primeira festa: a Páscoa.

A Páscoa (do hebraico Pesach, que significa "passar por cima") é a festa mais antiga dentre os eventos que são mundialmente celebrados (pelo menos é o que diz o livro "Messianic systematic theology of the Old Testament", de Mal Couch). Os cristãos celebram hoje a páscoa em comemoração à ressurreição de Jesus. No entanto, o sentido Bíblico da festa original era a morte do cordeiro para salvar o povo. Na décima praga do Egito, aqueles que passassem sangue do cordeiro na porta de casa seriam poupados da morte do seu primogênito:

"E aquele sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; vendo eu sangue, passarei por cima (pesach) de vós, e não haverá entre vós praga de mortandade, quando eu ferir a terra do Egito.", Ex 12:13

Os judeus foram salvos pela fé no sangue do cordeiro.

Para entender o cumprimento profético da Páscoa, vou dar alguns detalhes de como os judeus a celebravam na época de Cristo. Preste atenção nas datas.
  • O cordeiro pascal deveria ser separado no dia 10 do mês de Nisan (entre março e abril do nosso calendário). Ele deve ser examinado pelo sacerdote para saber se é sem defeito nem mancha (Ex 12:3-5);
  • Deve ser sacrificado aos 14 de Nisan e comido em casa na noite de 14 para 15 de Nisan, sem quebrar os ossos (Ex 12:46);
  • Durante a refeição são comidos pães ázimos (sem fermento) e ervas amargas (Ex 12:8);
Os judeus, ao longo dos séculos, adicionaram elementos à tradição da páscoa que estão claramente presentes nos evangelhos. Uma destas tradições é o sacrifício de um segundo cordeiro no dia 15 de Nisan, após a ceia da noite do dia 14 para o dia 15. Note o que aconteceu no dia 15 após Jesus ser preso:

"Depois levaram Jesus da casa de Caifás para a audiência. E era pela manhã cedo. E não entraram na audiência, para não se contaminarem, mas poderem comer a páscoa.", Jo 18:28

Os judeus não queriam entrar na audiência com Pilatos porque os judeus não se aproximavam de estrangeiros antes da páscoa para não serem "contaminados" pelo contato com eles. Mas se Jesus já tinha ceiado com os discípulos na noite anterior, por que dizer que eles ainda queriam comer a Páscoa? Trata-se do segundo cordeiro, morto às 9:00 do dia 15 de Nisan.

Agora, compare a sequência acima com o que ocorreu na última semana antes da crucificação de Jesus:
  • Jesus foi à casa de Lázaro em Betânia 6 dias antes da Páscoa (Jo 12:1), isto é, no dia 9 de Nisan, antes da grande celebração do dia 15. No dia seguinte, 10 de Nisan, Jesus entra em Jerusalém (Jo 12:12). Lembre-se de que este era o dia em que o cordeiro pascal era separado e examinado pelos sacerdotes, antes de ser morto no dia 14. De 10 a 14 de Nisan, Jesus foi examinado por fariseus, saduceus e herodianos e não se achou falha nEle (Jo 8:46). Mais tarde, até Pilatos declarou isso (Lc 23:4);
  • Jesus tinha que estar vivo no dia 14 para comer a páscoa, mas Ele morreu no dia 15 às 9:00 (Mc 15:25 - a hora terceira para os judeus, já que o amanhecer é às 6:00). Esta é a hora exata em que o segundo cordeiro pascal era sacrificado no pátio do templo;
  • Seus ossos não foram quebrados (Jo 19:33,36), assim como os do cordeiro pascal;
  • O pão sem fermento da páscoa representa que Cristo era sem pecado (I Co 5:8);
  • É desnecessário comentar o significado das ervas amargas.
Não é à toa que João Batista declarou: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.", Jo 1:29

Postscript:

Os judeus têm uma tradição curiosa durante a ceia de páscoa. O líder da cerimônia tem uma bolsa com 3 pedaços de matzoh (o pão sem fermento). Este pão é riscado e possue buracos. No meio da refeição, um dos pedaços é retirado da bolsa e quebrado. A parte menor volta para a bolsa e a maior é envolta em um pano de linho e escondida. Ao final da refeição, eles procuram o pedaço escondido e quando o acham, todos se alegram.

O significado e origem desta cerimônia são discutidos entre os judeus. Mas para os judeus cristãos, a explicação parece óbvia. Os três pedaços nos lembram da Trindade. O pedaço retirado nos lembra da encarnação de Jesus. As listras e furos no pão nos lembram que o corpo de Jesus foi riscado pelos açoites e perfurado pelos pregos. O partir do pão lembra sua morte. O pedaço envolto em linho e escondido é o corpo de Cristo, envolto em um lençol e sepultado. Quando o pedaço é encontrado eles se alegram, assim como os discípulos se alegraram quando encontraram Jesus ressuscitado.

"E, comendo eles, tomou Jesus pão e, abençoando-o, o partiu e deu-lho, e disse: Tomai, comei, isto é o meu corpo.", Mc 14:22