segunda-feira, 24 de maio de 2010

O Velho Testamento

Geralmente se ouve que a Bíblia está dividida em duas partes: o Velho e o Novo Testamentos. No Velho Testamento a salvação era pelo cumprimento da Lei (será?) e no Novo, pela fé em Jesus. Sendo assim, pode parecer estranho, à primeira vista, subdividir a Bíblia em várias dispensações, com regras próprias. Quem inventou estas outras divisões?

Primeiramente, a própria divisão da Bíblia em dois testamentos é uma obra humana. Deus não entregou a Bíblia em duas partes, uma com o rótulo "Velho Testamento" e outra com "Novo Testamento". Esta divisão em duas partes é uma colocação dos homens com base em um evento marcante na história: o nascimento de Cristo. Temos a história do mundo antes de Cristo e depois de Cristo. Mas, por que antes de Cristo é chamado de Velho Testamento? O termo refere-se à aliança, ou testamento, de Deus com Moisés e o povo de Israel. O sangue de Cristo representa um "Novo Testamento" de Deus com Israel. No entanto, existem outras alianças na Bíblia: Deus fez pacto com Noé, com Abraão, com Moisés, com Davi... Por que somente o pacto com Moisés nomeia o Velho Testamento? Isto é porque a maior parte da Bíblia se passa durante a época sob vigência da Lei Mosaica. Mas a divisão da Bíblia em partes menores é uma necessidade para qualquer um que queira entender o que está escrito, afinal de contas, todos os santos do livro de Gênesis viveram antes da Lei de Moisés, ou seja, antes do "Velho Testamento" entrar em vigor.

O que determina o fim de uma dispensação e início da próxima é um evento marcante que envolve uma intervenção de Deus que inclui novas revelações da Sua Palavra e uma clara mudança nas "regras da casa". Algumas coisas que valiam em uma dispensação não valem em outras. Por exemplo, a ordem de Deus para Adão e Eva não comerem do fruto proibido não faz sentido para os dias de hoje, uma vez que não existe mais a árvore do conhecimento do bem e do mal. Sacrifícios de animais são introduzidos na época da consciência, mas abolidos na época da Igreja. Promessas de prosperidade e domínio sobre os povos feitas no Velho Testamento não encontram cumprimento na vida dos santos do Novo Testamento. Simplesmente não dá para entender a Bíblia sem dividí-la corretamente.

Voltemos, então, ao ponto onde paramos no último artigo. Deus separou da descendência de Abraão um povo como Sua propriedade particular na terra. Eu já disse que as dispensações sempre terminam com o fracasso humano. No caso da dispensação da promessa, podemos ver claramente uma degeneração do caráter das pessoas com o passar das gerações. Abraão teve seus problemas, conforme já mencionamos. Seu filho Isaque seguiu o exemplo do pai e mentiu sobre sua esposa, dizendo que era sua irmã (Gn 26:7). Dos seus dois filhos, Esaú e Jacó, um era profano e o outro enganador. Os filhos de Jacó eram piores ainda, com exceção de José. Sua lista de pecados inclue traição e genocídio (Gn 34:25-27), adultério e prostituição (Gn 38:15-18), além de planejar o sequestro/homicídio de seu irmão (Gn 37:23-36). As promessas de Deus não foram suficientes para estimular a obediência na casa de Israel, de forma que eles foram forçados a sair da terra de Canaã para morarem no Egito, o que também foi cumprimento de uma profecia (Gn 15:13).

Aproximadamente quatrocentos anos se passaram desde a chamada de Abraão até o fim do cativeiro de Israel no Egito. Esta foi a duração da dispensação da promessa. Após Deus enviar as 10 pragas ao Egito e tirar Seu povo da escravidão, Ele o levou até o monte Sinai, onde revelou a Moisés a Sua Lei. Este é o início da dispensação da Lei. Durante esta transição, vemos novamente o fracasso humano quando o povo se corrompeu adorando o bezerro de ouro enquanto Moisés falava com Deus.

A Lei de Moisés é o Velho Testamento, propriamente dito. Mais precisamente, a Lei é a vontade de Deus para Israel naquela época e o pacto de Deus com eles dizia que se eles guardassem a Lei, Ele os abençoaria, senão, os amaldiçoaria (Dt 28). Como a consciência, o governo humano e as promessas de Deus não serviram para "domar" o espírito rebelde do homem, Deus apresenta agora uma lista com centenas de regras para governar cada aspecto da vida do seu povo. As bênçãos decorrentes da obediência incluíam:

"E SERÁ que, se ouvires a voz do Senhor teu Deus, tendo cuidado de guardar todos os seus mandamentos que eu hoje te ordeno, o Senhor teu Deus te exaltará sobre todas as nações da terra...O Senhor entregará, feridos diante de ti, os teus inimigos, que se levantarem contra ti; por um caminho sairão contra ti, mas por sete caminhos fugirão da tua presença...E o Senhor te dará abundância de bens no fruto do teu ventre, e no fruto dos teus animais, e no fruto do teu solo, sobre a terra que o Senhor jurou a teus pais te dar. O Senhor te abrirá o seu bom tesouro, o céu, para dar chuva à tua terra no seu tempo, e para abençoar toda a obra das tuas mãos; e emprestarás a muitas nações, porém tu não tomarás emprestado. E o Senhor te porá por cabeça, e não por cauda", Dt 28:1,7,11-13a

Percebeu que a ênfase está em coisas materiais? Não tem nada sobre céu ou inferno, novo nascimento, batismo no Espírito Santo, perdão de pecados, dons espirituais, paz interior ou outras bênçãos espirituais. A ênfase está na conquista da terra prometida, sua prosperidade, vitória sobre outras nações, saúde, dinheiro e fertilidade. Estas promessas foram dadas à nação de Israel somente, e não se aplicam a outros povos. Embora Deus, por sua bondade, possa abençoar uma nação que tema o Deus de Israel, não há como reivindicar estas promessas como se Deus fosse obrigado a cumprí-las, pois elas foram dadas a Israel. Antes de "tomar posse" de uma promessa de Deus devemos verficar se tal promessa foi dada a nós ou não. Se você acha que as bênçãos são para você, então deve considerar que as maldições também são:

"Será, porém, que, se não deres ouvidos à voz do Senhor teu Deus, para não cuidares em cumprir todos os seus mandamentos e os seus estatutos, que hoje te ordeno, então virão sobre ti todas estas maldições, e te alcançarão: Maldito serás tu na cidade, e maldito serás no campo. Maldito o teu cesto e a tua amassadeira. Maldito o fruto do teu ventre, e o fruto da tua terra, e as crias das tuas vacas, e das tuas ovelhas...O Senhor fará pegar em ti a pestilência, até que te consuma da terra a que passas a possuir...O Senhor te fará cair diante dos teus inimigos; por um caminho sairás contra eles, e por sete caminhos fugirás de diante deles, e serás espalhado por todos os reinos da terra. E o teu cadáver servirá de comida a todas as aves dos céus, e aos animais da terra; e ninguém os espantará.", Dt 28:15-18,21,25-26

Se você for aplicar estas palavras no nosso contexto hoje elas não farão sentido. Muitos ímpios vivem melhor do que muitos justos do ponto de vista de saúde, dinheiro, conforto, etc. A Bíblia só faz sentido se for lida dentro de cada contexto. Não estamos debaixo da Lei, as maldições não são para nós e nem as bênçãos. Vivemos debaixo de outro Testamento. Mais sobre isto no futuro.

No próximo post, vamos ver como alguém podia ser salvo na dispensação da Lei.