segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

A Terra Prometida


"Caro Lord Rothschild,

"Tenho o grande prazer de endereçar a V. Sa., em nome do governo de Sua Majestade, a seguinte declaração de simpatia quanto às aspirações sionistas, declaração submetida ao gabinente e por ele aprovada:

`O governo de Sua Majestade encara favoravelmente o estabelecimento, na Palestina, de um Lar Nacional para o Povo Judeu, e empregará todos os seus esforços no sentido de facilitar a realização desse objetivo, entendendo-se claramente que nada será feito que possa atentar contra os direitos civis e religiosos das coletividades não-judaicas existentes na Palestina, nem contra os direitos e o estatuto político de que gozam os judeus em qualquer outro país.´

"Desde já, declaro-me extremamente grato a V. Sa. pela gentileza de encaminhar esta declaração ao conhecimento da Federação Sionista.

"Arthur James Balfour." (Fonte)

Na semana passada, a Palestina foi reconhecida como estado observador das Nações Unidas. O status de Estado observador, semelhante ao do Vaticano, não garante direito a voto e fica logo aquém do reconhecimento pleno, que transformaria a Palestina no 194º membro da organização. Imediatamente, o governo de Israel desafiou a votação da ONU, autorizando a construção de milhares de casas (assentamentos) para seus colonos na Cisjordânia ocupada e em Jerusalém Oriental.

Durante as últimas 6 ou 7 décadas, o problema Palestino tem ocupado os noticiários internacionais, sendo, como se cuida, um dos maiores empecilhos para a paz mundial, uma vez que está ligado à formação de organizações terroristas que lutam pela causa palestina. Este tema aparentemente foge aos propósitos deste blog, que tem por objetivo estudar a Bíblia. No entanto, como o problema envolve a nação de Israel, é impossível a Igreja fugir do assunto, que está diretamente ligado a muitas profecias Bíblicas. Eu não tenho intenção de discutir a fundo a política deste problema, uma vez que isto exigiria um conhecimento de causa que eu não tenho. Vou me limitar a uma breve revisão de alguns dos principais acontecimentos do século XX ligados à questão e apresentar algumas profecias sobre o futuro da Palestina. Alerto que a leitura vai ser enfadonha para quem não se interessa por esta história, e superficial demais para os que se interessam profundamente. Mas serve como ponto de partida para os que quiserem saber mais.

Os judeus foram expulsos de Jerusalém pelos romanos após revoltas judaicas em 70 d. C. e 135 d. C. Foram os romanos que deram o nome de Palestina à terra de Israel. Ao longo dos séculos seguintes, a terra foi disputada por bizantinos, europeus e árabes muçulmanos, mas sempre houve habitantes judeus na região. A partir do século XIX, os judeus da Europa começaram a organizer o movimento Sionista, que visava estabelecer um lar para os judeus na Palestina. A carta transcrita no início deste post, conhecida como Declaração de Balfour, foi escrita em 2 de novembro de 1917 pelo então secretário britânico dos Assuntos Estrangeiros, Arthur James Balfour, e enviada ao Lord Rothschild, presidente na Federação Sionista Britânica, sobre sua vontade de conceder ao povo judeu uma facilitação de povoação da Terra onde hoje é Israel caso a Inglaterra conseguisse derrotar o Império Otomano, que, até então, dominava aquela região.

Com a derrota dos turcos/otomanos na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a Palestina foi colocada sob controle britânico, através de mandato recebido da Liga das Nações, em 1922. Mais de duas décadas depois, as atrocidades cometidas pelos nazistas contra os judeus durante a Segunda Guerra Mundial chamaram a atenção do Ocidente para a antiga reivindicação sionista de criação de um Estado judeu. Em fevereiro de 1947, a Inglaterra decidiu levar a questão à recentemente criada Organização das Nações Unidas (ONU). Naquele ano, a Palestina tinha uma população de 1 milhão e 300 mil palestinos e 600 mil judeus.

Em 29 de Novembro de 1947, o representante brasileiro Osvaldo Aranha presidiu a primeira Sessão Especial da Assembléia Geral da ONU, depois de atuar fortemente em favor da aprovação de uma partilha da Palestina em um Estado judeu e um Estado árabe, que afinal foi obtida, por 33 votos a favor, 13 contra e 10 abstenções. O plano previa que 53% do território seria entregue aos judeus e 47% aos árabes, conforme a Fig. 1 abaixo, mantendo Jerusalém como zona internacional.


Fig. 1: Plano de repartição da Palestina (ONU, 1947). (Fonte)

Em 14 de maio de 1948, à meia-noite, quando terminou oficialmente o mandato britânico da Palestina, David Ben-Gurion declarou a Independência do Estado de Israel, reconhecida imediatamente pela União Soviética e pelos Estados Unidos. Os Estados árabes vizinhos, que contestavam a criação de Israel, decidiram intervir e os exércitos do Egito, Iraque, Líbano, Síria e Transjordânia entraram na Palestina. A guerra de 1948-49 foi vencida pelos israelenses, que ampliaram o seu domínio por uma área de 20 mil km², incluindo parte de Jerusalém (ver Fig. 2, abaixo). O território restante foi ocupado pela Jordânia, que anexou a Cisjordânia, e pelo Egito, que ocupou a Faixa de Gaza. 900 mil palestinos abandonaram as áreas incorporadas por Israel e se espalharam pelo Oriente Médio.

 
 Fig. 2: Resultado da guerra de 1948-49. (Fonte)
 
Em 1967, tensões na fronteira levaram à guerra dos seis dias, em que Israel derrotou as forças reunidas do Egito, da Síria e da Jordânia e rapidamente tomou a Faixa de Gaza, a península do Sinai, as colinas de Golã e todo o território jordaniano a oeste do rio Jordão, retomando pleno controle de Jerusalém. Em 1979 foi assinado um tratado de paz prevendo a devolução do Sinai ao Egito, em uma série de etapas que terminariam em 1982, conforme a Fig. 3, abaixo. Em troca, o Egito reconheceu a soberania de Israel.


Fig. 3: Resultado da guerra dos seis dias e do acordo com o Egito. (Fonte) 

Em 1987 foi criado na cidade de Gaza o Hamas, um movimento de resistência islâmica na Palestina, que inclui uma entidade filantrópica, um partido político e um braço armado, cuja carta de princípios defende a eliminação de Israel. Hoje, grande parte da imprensa internacional defende que Israel deve se retirar de todas as regiões anexadas e retornar aos territórios estabelecidos pela ONU em 1947. Pessoalmente, acho ingênuo acreditar que isto traria paz ao Oriente Médio, uma vez que as nações vizinhas já tentaram destruir Israel mesmo na época em que estes ocupavam apenas as terras entregues pela ONU. O Hamas tem como objetivo a destruição do Estado de Israel e não irá parar enquanto não atingir este alvo (veja aqui o que diz um famoso ex-membro do Hamas, convertido ao Cristianismo, e veja aqui as declarações recentes do líder do Hamas). Além disso, a devolução de territórios conquistados em guerras é assunto complicado e, certamente, muitas outras nações em todos os continentes estão "devendo" terras a alguém. Como eu mencionei anteriormente, não vou discutir o que é politicamente correto nesta história. Não defendo atrocidades que possam ter sido cometidas por Israel, mas eles têm o direito de defender seu Estado. A pergunta é justamente esta, qual é o estado de Israel? Qual é a extensão das terras que lhes pertencem por direito?

Neste ponto, entrego a resposta para esta pergunta a Deus e não à ONU. Este não é um território neutro, é a Terra prometida por Deus a Abraão e à sua descendência e “em Isaque será chamada a tua descendência” (Gn 21:12), o mesmo sendo repetido a Isaque (Gn 26:3) e a Jacó (Gn 35:12), ou seja, Israel. A extensão da terra prometida é mencionada em Gn 15:18:

“Naquele mesmo dia fez o Senhor uma aliança com Abrão, dizendo: à tua descendência tenho dado esta terra, desde o rio do Egito até ao grande rio Eufrates;”

Os detalhes das fronteiras da terra são dados em outros textos, como Nm 34:1-12. Não é fácil delimitar com precisão a terra com base nos marcos da época, e vários autores têm proposto diferentes mapas para ilustrar a região. Seja qual for a extensão exata, parece não ser muito diferente do que foi no Reino de Davi e Salomão (ver mapa na Fig. 4, abaixo), quando Deus deu descanso a Israel (I Re 4:21).

 
Fig. 4: Reino de Israel nos tempos de Davi e Salomão. (Fonte)
 
Conforme comentei no post “O Israel de Deus”, pode parecer injusto com os árabes o fato de Israel repetidamente retornar à terra e tomá-la de suas mãos. Independentemente do que parece, o fato é que isto irá acontecer e eventualmente a terra será toda dos judeus, pois Deus a deu a eles por estatuto perpétuo (Gn 13:15, Gn 17:8). Não sou a favor de que Israel simplesmente invada terras alheias hoje, mas no futuro, de alguma maneira, Deus irá dar a terra a eles. Enquanto isso, Ele pode usar diversos meios, seja a ONU, guerras, ou mesmo a intervenção de homens sem temor a Deus e suas organizações e sociedades com fins diversos. Certamente as profecias se cumprirão.

“Porque Israel e Judá não foram abandonados do seu Deus, do Senhor dos Exércitos, ainda que a sua terra esteja cheia de culpas contra o Santo de Israel.”, Jr 51:5

Isso tudo pode parecer um discurso anti-árabe e intolerante. Não é. Não tenho uma gota de sangue judeu e a Bíblia nos ensina a amar a todos, indiscriminadamente; diante de Deus, nenhum indivíduo é melhor que outro só porque tem sangue judeu ou não. Mas, como nação, Deus escolheu Israel como sua propriedade particular dentre as nações, sua menina dos olhos (Zc 2:8), e sua escolha é irrevogável (leia Rm 11). Os judeus estão sofrendo por consequência de seu ódio a Jesus e precisam se arrepender. Será preciso uma Grande Tribulação para que eles finalmente reconheçam que Jesus é o seu Messias. Quando isto acontecer,

“todo o Israel será salvo, como está escrito: De Sião virá o Libertador, E desviará de Jacó as impiedades. E esta será a minha aliança com eles, Quando eu tirar os seus pecados. Assim que, quanto ao evangelho, são inimigos por causa de vós; mas, quanto à eleição, amados por causa dos pais.” Rm 11:26b-28

Até então, eles serão trazidos de volta à terra como incrédulos, assim como foi predito (leia Ezequiel 20:33-38; 22:17-22).


“Orai pela paz de Jerusalém; prosperarão aqueles que te amam.”, Sl 122:6