sábado, 4 de fevereiro de 2012

As Festas do SENHOR - Parte 3

Já escrevi um pouco sobre as quatro festas judaicas celebradas durante a primavera. A páscoa, que celebra a morte do cordeiro para salvar os que creram na Palavra de Deus, e se cumpre com a crucificação de Jesus; os pães ázimos, primícias e pentecostes, que são festas ligadas às colheitas e que representam, respectivamente, o corpo de Cristo entregue por nós, sua ressurreição e a descida do Espírito Santo na inauguração da Nova Aliança. Estas quatro festas já se cumpriram. As próximas três, celebradas no outono em Israel, encontram seu cumprimento ainda no futuro.

As profecias são, em geral, entregues em linguagem simbólica e, portanto, costumam ser difíceis de interpretar. Muitas vezes, a própria Bíblia apresenta a interpretação, o que facilita a nossa vida. No caso das festas judaicas, isso não acontece. Em nenhum lugar do Velho Testamento encontramos a interpretação do sentido das festas, embora não seja tão difícil concluir o significado de algumas delas. De qualquer jeito, toda palavra profética serve como alerta aos que esperam seu cumprimento e, também, como prova da veracidade do profeta assim que a profecia se cumpre. Então, é sempre mais fácil olhar para as profecias já cumpridas e se admirar com a revelação de Deus do que entender o significado daquelas que ainda hão de se cumprir. Tendo dito isto, vou tentar explicar o significado das festas de outono, já sabendo que  estou sujeito a erros nesta tarefa.

Festa das Trombetas

"Fala aos filhos de Israel, dizendo: No mês sétimo, ao primeiro do mês, tereis descanso, memorial com sonido de trombetas, santa convocação. Nenhum trabalho servil fareis, mas oferecereis oferta queimada ao Senhor.", Lv 23:24-25

O mês sétimo dos judeus é chamado de Tishri, e corresponde a um período entre setembro e outubro em nosso calendário. A Festa das Trombetas é também chamada de Rosh Hashanah (início do ano), por marcar o ano novo civil (o ano novo cerimonial começa no mês de Nisan. Adicione 3761 ao ano do calendário Cristão e você obtém o ano no calendário judaico, iniciado em Rosh Hashanah). A trombeta mencionada é o famoso Shofar, que na cultura judaica atual é feito com o chifre de um animal "limpo", mas não bovino, pois o chifre bovino lembraria o fatídico bezerro de ouro de Êxodo 32. Em geral, é usado o chifre de um carneiro (trombetas feitas de chifre bovino são chamadas de keren, não shofar). Neste dia, eram oferecidos os sacrifícios descritos em Nm 29:2-5 e toda a Lei de Moisés era lida para o povo, como fez Esdras desde o amanhecer até o meio dia (Nee 8:1-12).

Na Bíblia, o toque do shofar costuma estar ligado a um chamado solene, uma convocação das tribos de Israel, em geral, para santificação:

"Tocai a trombeta em Sião, santificai um jejum, convocai uma assembléia solene.", Jl 2:15

Na tradição rabínica, o som do shofar tem vários significados, incluindo:

1) Chamado ao arrependimento;

2) Anuncia 10 dias de penitência para que cada um garanta que seu nome será inscrito no Livro dos Justos (ou da Vida) no Dia da Expiação, para que possam permanecer vivos por mais 1 ano.

3) Simboliza o ajuntamento dos judeus em Israel quando o Messias vier;

Os judeus têm um ritual curioso ligado a esta festa. Baseados em Miquéias 7:19, "e tu lançarás todos os seus pecados nas profundezas do mar", eles vão a um rio, lago ou praia e simbolicamente esvaziam seus bolsos na água, simbolizando Deus lançando fora os seus pecados. Na Idade Média, na época da Peste Negra, muitos europeus viram este ato como prova de que os judeus estavam envenenando a água, o que levou à violência contra comunidades judaicas.

De volta à Bíblia, existe somente um verso profético no Velho Testamento ligado ao shofar:

"E será naquele dia que se tocará uma grande trombeta, e os que andavam perdidos pela terra da Assíria, e os que foram desterrados para a terra do Egito, tornarão a vir, e adorarão ao Senhor no monte santo em Jerusalém.", Is 27:13

Um dia, uma grande trombeta será tocada e a nação de Israel se ajuntará na terra prometida uma última vez. Para os judeus, a Festa das Trombetas significa este retorno final à terra. No Novo Testamento, Jesus também falou sobre a trombeta anunciando o ajuntamento do Seu povo:

"E ele enviará os seus anjos com rijo clamor de trombeta, os quais ajuntarão os seus escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus.", Mt 24:31

No contexto de Mateus 24, este é um ajuntamento dos eleitos de Deus pouco antes da Segunda Vinda de Cristo para inaugurar Seu Reino na terra.

Judeus crentes e outros acreditam que a festa das Trombetas representa a trombeta que ouviremos no arrebatamento da Igreja:

"Num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados.", I Co 15:52

"Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor.", I Ts 4:16-17

Então, a Festa das trombetas simboliza Deus ajuntando seus escolhidos para estarem com Ele para sempre. Existe uma divergência sobre o significado específico da festa. Uns acham que a última trombeta representa o ajuntamento de Israel para habitar seguro na terra prometida; outros acham que representa o ajuntamento dos santos da Igreja para encontrarem-se com o Senhor nos ares. Ainda outros acham que a trombeta refere-se a ambos os eventos, que ocorrem antes da vinda de Cristo. Mas está claro que a festa simboliza a reunião dos santos com o Messias no fim dos tempos. Pessoalmente, creio que o contexto em que a festa foi estabelecida sugere uma aplicação mais para Israel como nação. Sendo assim, Israel será ajuntado após a última trombeta soar. Mas para que possa entrar no Reino de Deus, é necessário que a nação se converta, o que só acontecerá após eles entenderem o significado do Dia da Expiação.