quarta-feira, 17 de abril de 2013

Evolução III: Observatório da imprensa


O trecho a seguir é de uma notícia publicada na edição online do Estado de S. Paulo de 11 de abril de 2013, intitulada "Detalhes de um ancestral humano":

Seis trabalhos publicados na edição desta semana da revista Science revelam novos detalhes anatômicos e comportamentais (inferidos da anatomia) do hominídeo Australopithecus sediba, uma espécie ancestral da linhagem humana que viveu cerca de 2 milhões de anos atrás...Os pesquisadores não sabem exatamente em que galho da árvore evolutiva colocar a espécie, mas acreditam que o A. sediba foi mesmo um ancestral direto do gênero Homo, que deu origem ao Homo erectus, ao Homo neanderthalensis e a nós, Homo sapiens.

Quando o autor menciona “os pesquisadores”, entenda-se o Dr. Lee Berger, paleoantropologista da Universidade de Witwatersrand, Johannerburg, que foi quem descobriu os fósseis. Ele e sua equipe “...acreditam que o A. sediba foi mesmo um ancestral direto do gênero Homo”. O resto da comunidade científica não está tão certa disto, como pode ser notado pelos próprios artigos da Science, citados na matéria do Estado de S. Paulo. Como exemplo, reproduzo abaixo dois parágrafos do artigo de Michael Balter, Candidate Human Ancestor From South Africa Sparks Praise and Debate, Science, 9April 2010, Vol. 328 no. 5975 pp. 154-155 

o grupo (liderado por Lee Berger) diz que a nova espécie pode ser o melhor candidato conhecido para ancestral imediato de nosso gênero, Homo. A última alegação é forte e, no momento, poucos cientistas estão prontos a acreditar nisso.” (Ênfase minha)

'Dada sua idade avançada e a anatomia de Australopitecus, ele (o novo fóssil) contribui pouco para o entendimento da origem do gênero Homo', diz (Tim) White (paleoantropologista da Universidade da Califórnia, Berkeley).” (Ênfase minha)

Às vezes, a imprensa de massa omite alguns detalhes das matérias científicas para facilitar a leitura pelo público leigo. Mas, como dizem, “the devil is in the details...”

p.s. Veja também o post: Evolução II