terça-feira, 23 de março de 2010

Ninrode

As dispensações sempre acabaram em tragédia. A dispensação da inocência terminou com a queda no Éden, a da consciência com o dilúvio, e a seguinte, a dispensação do governo humano, termina com a torre de Babel. Antes de discutirmos as razões que levaram Deus a se zangar tanto com o povo por causa da torre, é preciso checar o que Deus ordenou ao homem nesta nova dispensação.

Quando Noé saiu da arca, Deus revelou-lhe quais eram as instruções da nova dispensação:

1 - O homem deveria se multiplicar e encher a terra:

Gn 9:1 - "E abençoou Deus a Noé e a seus filhos, e disse-lhes: Frutificai e multiplicai-vos e enchei a terra."

2 - O homem poderia comer carne, desde que fosse sem sangue:

Gn 9:3-4 - "Tudo quanto se move, que é vivente, será para vosso mantimento; tudo vos tenho dado como a erva verde. A carne, porém, com sua vida, isto é, com seu sangue, não comereis."

3 - A pena de morte foi instituída:

Gn 9:6 - "Quem derramar o sangue do homem, pelo homem o seu sangue será derramado; porque Deus fez o homem conforme a sua imagem."

Este verso é o que explica o nome desta dispensação: governo humano. Note que na dispensação anterior, quando Caim matou Abel, Deus não disse que Caim deveria ser morto. Deus até o protegeu disto. Lameque matou dois homens e ninguém o puniu por isto (Gn 4:23). Agora, o homem passa a ser responsável por governar a sociedade, fazendo justiça em casos de homicídio. Como a geração pré-dilúvio fora extremamente violenta, Deus fez questão de estabelecer regras para que o homem aprendesse a valorizar a vida. Provavelmente, esta é a razão de Ele ter proibido os homens de comerem carne com sangue, pois o sangue representa a vida segundo Gn 9:4. Esta proibição certamente envolve questões de saúde também.

4 - O homem deveria se multiplicar e povoar a terra (Deus repete o mandamento):

Gn 9:7 - "Mas vós frutificai e multiplicai-vos; povoai abundantemente a terra, e multiplicai-vos nela."

Toda a população do mundo sabia a vontade de Deus: Noé, sua esposa, seus filhos Sem, Cam e Jafé, e as esposas deles. A salvação estava disponível a todos. Bastava que as gerações a partir de então cressem no Deus de Noé.

O capítulo 10 de Gênesis apresenta as gerações de Sem, Cam e Jafé. Não sabemos sobre a vida espiritual daquelas pessoas, mas um deles chama a atenção: Ninrode, um dos netos de Cam. Ninrode foi famoso em seu tempo, sendo chamado de "poderoso caçador diante do SENHOR" (Gn 10:9). Entre outras coisas ele é o fundador de Babel (v. 10) e de Nínive, na Assíria (v. 11). Babel é a chave para entendermos muito do que irá acontecer durante o restante da história da humanidade. Ninrode liderou os homens na construção desta cidade e da torre de Babel, que trouxe a ira de Deus sobre os homens. Mas qual era o problema de construir uma torre em Babel? Note que a razão para a construção da torre foi:

Gn 11:4 - "E disseram: Eia, edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus, e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra."

Eles queriam glorificar seu próprio nome com um monumento gigantesco e, acima de tudo, não queriam ser espalhados por toda a terra. Mas isto foi uma desobediência ao claro mandamento de Deus para aquela dispensação de povoar toda a terra. Como consequência, Deus confundiu a linguagem das pessoas e cada um foi para um lado, de forma que o mandamento de Deus foi cumprido "na marra":

Gn 11:8 - "Assim o Senhor os espalhou dali sobre a face de toda a terra; e cessaram de edificar a cidade."

Existe muito mais envolvido na construção de Babel do que pode parecer à primeira vista. É uma prova de que a maioria da humanidade havia se afastado do Deus de Noé. Ninrode foi o primeiro a tentar estabelecer um império ou governo secular fora da vontade de Deus, onde o homem seria glorificado. Após a confusão de línguas, eles perderam-se em seus próprios caminhos e foram fundar sociedades com sua própria cultura e religião. Em comum, estas sociedades tinham as histórias que haviam ouvido de seus pais sobre a criação, a queda, o dilúvio e babel. Sabemos que existem lendas sobre estas histórias espalhadas pelas mais diversas culturas do mundo antigo. Sabemos também que as religiões pagãs têm muitos elementos em comum. A origem de muitos destes elementos pode ser rastreada até Babel, na terra de Sinar, que é o termo hebraico para descrever a região da Suméria, onde também foi erguida a Assíria e a Babilônia (atual Iraque). Especula-se que a torre de Babel tenha sido um grande "Ziggurat", monumentos enormes encontrados na terra de Sinar com propósitos religiosos, envolvendo astrologia. Os antigos acreditavam que os Ziggurats eram habitações dos deuses (http://en.wikipedia.org/wiki/Ziggurat). O paganismo pós-dilúvio certamente espalhou-se pelo mundo a partir da terra de Sinar, de onde temos que a falsa religião é chamada no livro de Apocalipse de "a grande Babilônia, a mãe das prostituições e abominações da terra" (Ap 17:5). Vários elementos dos cultos babilônicos, tais como a adoração ao sol e o culto à rainha dos céus, podem ser encontrados nas religiões do antigo Egito, Grécia, Roma e até têm penetrado na igreja cristã (http://philologos.org/__eb-ttb/).

Depois de Babel, as religiões do mundo se dividiram em duas: os que servem a Deus de acordo com a verdade revelada na Sua Palavra, que formam a "noiva de Cristo" e a "Nova Jerusalém" (Ap 21:2-3), e os que seguem a falsa religião, que a Bíblia chama de "meretriz" e "Babilônia" (Ap 17:5). Nossa missão é resgatar almas da Babilônia (a cidade dos homens) para a Nova Jerusalém (a cidade de Deus), pois um dia Deus irá julgar a Babilônia, de onde a Bíblia nos alerta para nos separarmos dela:

Ap 18:1-5 - "E clamou fortemente com grande voz, dizendo: Caiu, caiu a grande Babilônia, e se tornou morada de demônios, e coito de todo espírito imundo, e coito de toda ave imunda e odiável. Porque todas as nações beberam do vinho da ira da sua prostituição, e os reis da terra se prostituíram com ela; e os mercadores da terra se enriqueceram com a abundância de suas delícias. E ouvi outra voz do céu, que dizia: Sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos seus pecados, e para que não incorras nas suas pragas. Porque já os seus pecados se acumularam até ao céu, e Deus se lembrou das iniqüidades dela."

8 comentários:

  1. Alguns (muitos) têm a noção de que a missão do povo de Deus é salvar o mundo. Deus não quer salvar o mundo, quer tirar pessoas dele, criar cidadãos dos céus, estrangeiros aqui na terra.

    Não vamos, pelo bom exemplo, pela oração, pela pregação ou de qualquer forma conquistar a terra para Jesus. Não existem nações, Estados ou cidades que pertencem a Jesus. "Sabemos que somos de Deus, e que todo o mundo está no maligno" 1 João 5.19.

    Isso não quer dizer que não temos influência para causar mudanças sociais positivas. Quer dizer que, no fim, qualquer melhora que o povo de Deus traga à sociedade não mudará o fato de que o destino do mundo é ser julgado, condenado e destruído.

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  2. Erico
    Excelente texto.
    Parabens.
    Nilson

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  3. Ricardo,

    Esta é a visão pré-milenista. Os dominionistas pós-milenistas discordam, e muitos tentam fazer de tudo para implantar o Reino de Deus na terra, achando que se não fizerem isto Jesus vai demorar mais para voltar. Com isso, tentam promover a paz a qualquer custo, fazem política, etc. É incrível como as igrejas negligenciam o estudo de profecias hoje em dia, achando que isto é irrelevante para a vida das pessoas, quando, na verdade, nossa posição sobre as profecias afeta diretamente a maneira como encaramos a vida.

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  4. Ótimos artigos!

    De fato, quem estuda a Bíblia como um todo, e tem um zelo pelas profecias, precisa considerar a perspectiva dispensacionalista pré-tribulacionista, que, a meu juízo, é a melhor alternativa, ou seja, a que melhor consegue explicar as muitas “contradições” da Bíblia. Se várias profecias do Antigo Testamento se cumpriram literalmente, é bem provável que aquelas que ainda não se cumpriram também vão se cumprir dessa forma. A Bíblia toda é a Palavra de Deus, mas cada livro que a compõe teve destinatários diretos, mas ainda assim todos eles possuem ensino e aplicações espirituais para nós, crentes em Cristo. Um equívoco dos mais cometidos nas igrejas é confundir a Igreja com Israel, o que tem gerado heresias como a teologia da prosperidade, dentre tantas outras.

    O crente não dispensacionalista terá grandes dificuldades para argumentar com adeptos de seitas como TJ e SUD e outros grupos exclusivistas, como os adventistas; achará também grandes divergências na Bíblia sobre a forma da segunda vinda de Jesus, se não entender que esta se dará em duas etapas: primeiro, para arrebatar a Sua igreja, que poderá ocorrer a qualquer momento, sem grandes sinais; depois, para salvar Israel (acompanhado da Igreja), no final da grande tribulação.

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  5. Uma dúvida com relação a essa personagem diz respeito à quantidade de gente disponível, àquela altura, para ele sair edificando cidades e até fundando um reino.

    Observem que a partir de Noé, Ninrode estava apenas na 4ª geração!

    Claro, sabemos que as pessoas daquela época viviam muito (?) e que, por isso, várias gerações podiam coexistir; mas, mesmo assim, não é estranho tantos feitos, com tão poucos habitantes existindo na terra?!

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  6. LMNT, note que Gn 10:8 diz que Cuxe gerou a Ninrode. Isto não significa, necessariamente, que Cuxe foi pai de Ninrode, pois sabemos que muitas vezes as genealogias do Velho Testamento não são completas, isto é, não são sempre registrados todos os nomes em uma genealogia, apenas aqueles necessários para se identificar uma linhagem de maneira única. Sendo assim, não seria de estranhar se Cuxe fosse avô ou bisavô de Ninrode e a expressão "Cuxe gerou a Ninrode" seria usada do mesmo jeito.

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