segunda-feira, 8 de novembro de 2010
Pastor ou Apóstolo?
Ef 4:11,12 - "E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo;"
Existe confusão entre as pessoas quanto a alguns termos que aparecem no Novo Testamento, como apóstolo, evangelista, profeta, bispo, presbítero, pastor, doutor (ou mestre), ancião e diácono. A palavra ancião é tradução do grego "presbiteros", ao passo que bispo, ou supervisor, é tradução de "episcopos". Trata-se de duas palavras distintas para o mesmo cargo de líder da igreja local. O nome "ancião" enfatiza a maturidade do homem, tanto em questões espirituais quanto em experiência de vida. A palavra "bispo" enfatiza a função de supervisor espiritual da igreja. Uma terceira palavra usada neste contexto é pastor ("poimen"), que foca na função de pastoreio exercida pelos anciãos. Apesar da popularidade do termo "pastor" hoje em dia, a palavra "poimen" aparece somente uma vez na Bíblia em associação com uma função na igreja, precisamente em Ef 4:11 (no entanto, na Bíblia em português, às vezes a palavra "presbiteros" foi traduzida como pastores). A maioria dos teólogos que consultei coloca "doutores" e "mestres" como sinônimos de pastores, uma vez que o final de Ef 4:11 pode ser traduzido como "...e outros para pastores, ou seja, doutores". Como doutores ou mestres são os que ensinam as Escrituras, a principal função do pastor é ensinar. Em geral esta função era exercida por anciãos, mas uma pessoa podia ter o dom de ensino/pastoreio sem ter o cargo de ancião.
Resumindo, as palavras ancião, presbítero e bispo referem-se ao mesmo cargo. Hoje em dia, a maioria das igrejas evangélicas daria o nome de pastor a tal cargo.
Assim, pastores são os que cuidam do rebanho, liderando, alimentando com a Palavra de Deus e zelando para que as ovelhas não se desgarrem. O papel do pastor não é primeiramente evangelizar os perdidos. Isto é tarefa de todos os crentes e em particular dos evangelistas. O pastor deve equipar as ovelhas com a verdade para que elas possam crescer de maneira saudável no conhecimento da Palavra.
Note que em Ef 4:12, citado acima, são as ovelhas que estão no ministério, não os pastores. O pastor é quem as prepara para o ministério. As ovelhas devem ir à igreja, ouvir os pastores ensinarem a Palavra de Deus para crescerem e amadurecerem, de forma que elas possam ministrar no serviço que Deus espera de cada uma delas. Este ministério individual não precisa ser um cargo na igreja, mas é o serviço diário de cada cristão, que envolve evangelizar o próximo, apoiar os irmãos e a prática das mutualidades descritas no Novo Testamento (os famosos "uns aos outros").
Os pastores devem ser escolhidos de acordo com os critérios descritos em I Tm 3:1-7 e Tt 1:5-9, que incluem capacidade de ensinar, conhecimento da Bíblia, capacidade de liderar comprovada pela forma como governam suas famílias e bom testemunho de vida, pois eles devem ser exemplo daquilo que ensinam:
I Pe 5:1-3: "AOS presbíteros, que estão entre vós, admoesto eu, que sou também presbítero com eles, e testemunha das aflições de Cristo, e participante da glória que se há de revelar: Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto; Nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas SERVINDO DE EXEMPLO AO REBANHO."
Note que em nenhum lugar da Bíblia exige-se que os pastores sejam grandes ganhadores de almas, criativos, dinâmicos, divertidos, pró-ativos, visionários, etc. Algumas destas características podem ser úteis, mas elas não são requisitos para um bom pastor segundo a Bíblia.
Com relação aos diáconos, supõe-se que eles tenham sido instituídos em At 6 para servirem à igreja na distribuição de recursos às viúvas, embora o termo diácono só apareça pela primeira vez em Fp 1:1. A palavra diácono significa "servo", e parece que exerciam tarefas diversas que eram atribuídas pelos presbíteros. Os requisitos para a escolha de diáconos (I Tm 3:8-13) envolvem o mesmo padrão moral exigido dos pastores, só que dos diáconos não se cobra a capacidade de ensinar, pois esta não é sua tarefa.
Resta falar sobre apóstolos e profetas. Vamos tratar dos profetas em outra ocasião, quando falarmos do cânon da Bíblia. A palavra apóstolo significa "enviado", dando a idéia de alguém que é um representante oficial de outra pessoa. Um apóstolo tem uma posição de grande responsabilidade e age com poder e autoridade em nome daquele que o enviou. Quando Jesus selecionou 12 dos seus discípulos e os chamou de apóstolos (Lc 6:12-13), Ele conferiu a eles grande autoridade e poder para autenticarem sua mensagem por meio de sinais e assim estabelecerem os fundamentos sobre os quais a igreja seria edificada.
O único caso de sucessão apostólica mencionado na Bíblia ocorre em At 1:16-26, quando Matias foi escolhido para substituir Judas em cumprimento a uma profecia de Sl 109:8. Aqui, encontramos os requisitos para ser um dos 12 apóstolos: teria que ter estado com Jesus desde seu batismo até sua assunção, tendo ouvido seus ensinos e sendo testemunha ocular da Sua ressurreição, além de ser escolhido por Deus.
O grupo dos 12 apóstolos não pode ser ampliado, uma vez que seus nomes estão gravados nos fundamentos do muro da Nova Jerusalém (Ap. 21:14). O que dizer, então, de Paulo? Ele passava boa parte do tempo tendo que provar que era um apóstolo verdadeiro, igual aos 12 em autoridade (I Co 1:1; 9:1-5; II Co 1:1; 11:5; Gl 1:1-2:15; II Tm 1:1,11). Apesar de Paulo não ter acompanhado Jesus desde o início, ele viu o Cristo ressuscitado e foi pessoalmente escolhido por Ele (At 9:3-7, 17; 22:6-9; 26:12-16; I Co 15:8), tendo mostrado os sinais milagrosos de um verdadeiro apóstolo. A respeito de si mesmo, Paulo diz ser o último dos apóstolos, nascido fora de tempo (I Co 15:8), pois não esteve com Jesus desde o início. Outro que talvez possa ser qualificado como apóstolo foi Tiago, meio-irmão de Jesus e líder da igreja de Jerusalém, que foi testemunha ocular da ressurreição de Cristo (I Co 15:7) e contado com os apóstolos (Gl 1:19). Outro homem que é chamado de apóstolo é Barnabé (At 14:14).
Para entender porque diversos Cristãos foram chamados de apóstolos na Bíblia, apesar dos requisitos restritivos para a definição de apóstolo, note que em I Co 15, ao falar sobre a ressurreição de Cristo, Paulo menciona que Ele apareceu primeiro a Cefas, depois aos doze (v. 5, será que Matias estava presente?), depois por mais de quinhentos irmãos (v. 6), depois por Tiago e por "todos os apóstolos" (v. 7). Perceba que "todos os apóstolos" refere-se a outros que não os 12 ou Tiago. Com isso, pode-se concluir que havia outros apóstolos além dos
12, mas todos haviam visto o Cristo ressuscitado e sido chamados pessoalmente por ele. Possivelmente, este número inclui os 70 que Jesus havia enviado previamente a pregarem a chegada do Reino de Deus e operarem milagres (Lc 10). Pode ser que Barnabé fosse um desses, embora isso não possa ser verificado; é possível que ele tenha sido chamado de apóstolo apenas no sentido de alguém enviado pela Igreja para uma obra missionária. Seja como for, o último a ser comissionado pelo Cristo ressuscitado foi Paulo.
Assim, temos 2 classes de apóstolos: a primeira é formada por Paulo, os 12 e outros escolhidos e enviados pessoalmente por Jesus como seus representantes autorizados; a segunda é formada por alguns outros mencionados em Atos, escolhidos e enviados pelos apóstolos como representantes autorizados da Igreja. Não existem outros casos de sucessão dos 12 além de Matias. Quando Tiago, filho de Zebedeu, que era dos 12, foi morto por Herodes Agripa I (At 12:1-2), a igreja não o substituiu. Também não existem instruções nas epístolas sobre como escolher um apóstolo, embora haja instrução para a escolha de presbíteros e diáconos. Na verdade, em vista dos requisitos de um verdadeiro apóstolo, ninguém nascido após o primeiro século da era cristã se qualificaria como candidato. Paulo foi o derradeiro, como ele mesmo disse. Na verdade, concluímos que os apóstolos não são necessários na igreja atual, uma vez que sua tarefa era estabelecer a igreja e sua doutrina (Jo 14:26; 16:12-13; Ef 2:20). Como a doutrina já foi entregue de uma vez por todas (como veremos), apóstolos não são mais necessários. A igreja de Cristo deve ser governada por presbíteros e servida por diáconos. Nada de papas, apóstolos ou super-bispos.
Para mais informações, recomendo: Mal Couch, "A Bible handbook to the Acts of the Apostles", Kregel.
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Olá Érico!
ResponderExcluirParabéns pelo belo trabalho apresentado aqui no blog. Já estou seguindo!
Aproveito para lhe convidar a conhecer o meu blog, e se desejar também segui-lo, será uma honra. Seus comentários serão sempre bem-vindos por lá.
www.hermesfernandes.com
Juntos pelo reino!
Você se esqueceu dos patriarcas, eles voltaram, diretos da era pré-Israel. http://bit.ly/b17w8W
ResponderExcluirPatriarcas?! Que negócio é esse? Estou ultrapassado!
ResponderExcluirPrezado Pr. Fernandes (ou seria bispo, presbítero, ancião? Com certeza não apóstolo ou patriarca),
ResponderExcluirObrigado pelas palavras de encorajamento. Vou visitar seu blog assim que puder.
Erico
ResponderExcluirExcelente texto.
Espero que esteja tudo bem com voce e a familia.
Continue na graca do Senhor.
Um abracao.
Nilson
O que vc diz sobre a roforma apostólica?
ResponderExcluirQuem os instituiu como apóstolos? Os da Bíblia foram escolhidos pessoalmente por Jesus e receberam a capacidade de operar milagres inegáveis para confirmar sua autoridade. Os atuais são autoproclamados apóstolos.
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