"E o Senhor te dará abundância de bens no fruto do teu ventre, e no fruto dos teus animais, e no fruto do teu solo, sobre a terra que o Senhor jurou a teus pais te dar. O Senhor te abrirá o seu bom tesouro, o céu, para dar chuva à tua terra no seu tempo, e para abençoar toda a obra das tuas mãos; e emprestarás a muitas nações, porém tu não tomarás emprestado. E o Senhor te porá por cabeça, e não por cauda; e só estarás em cima, e não debaixo, se obedeceres aos mandamentos do Senhor teu Deus, que hoje te ordeno, para os guardar e cumprir.", Dt 28:11-13
"Porque tenho para mim, que Deus a nós, apóstolos, nos pôs por últimos, como condenados à morte; pois somos feitos espetáculo ao mundo, aos anjos, e aos homens...Até esta presente hora sofremos fome, e sede, e estamos nus, e recebemos bofetadas, e não temos pousada certa, E nos afadigamos, trabalhando com nossas próprias mãos. Somos injuriados, e bendizemos; somos perseguidos, e sofremos; Somos blasfemados, e rogamos; até ao presente temos chegado a ser como o lixo deste mundo, e como a escória de todos.", I Co 4:9-13
E aí, o que você vai ser? Cabeça ou escória? Vai ser como Davi, que morava num palácio, ou como Jesus, que não tinha onde reclinar a cabeça? Como o rico que foi pro inferno ou como Lázaro, que foi pro seio de Abraão?
Na Bíblia, assim como na vida, você vai ver ambos os tipos de pessoas servindo a Deus fielmente, ricos e pobres; saudáveis e doentes; estéreis e mães. Então, o que fazer do texto de Deuteronômio 28? Se Deus prometeu riquezas, por que temos pobres na igreja? Mesmo entre os mais fieis? Os Neo-Pentecostais vão dizer que é por falta de fé nestas promessas específicas, mas os textos do Novo Testamento não dizem isso. Aliás, dizem que:
"Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína.", I Tm 6:9
e
"Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam", Mt 6:19
Tiago 2 é outro texto importante, pois condena a discriminação contra os pobres, pois Deus os escolheu para serem ricos na fé. Sendo assim, qual é a resposta para a contradição aparente?
Na verdade, as promessas de Dt 28 só são válidas para quem guardar TODA a Lei e, a rigor, é válida para a nação de Israel, não para qualquer indivíduo. Sendo assim, as promessas se cumprirão no Milênio, quando Israel tiver a Lei "escrita em seus corações". O único jeito pelo qual consigo entender a Bíblia é por meio de uma distinção entre Israel e a igreja e entre as diferentes dispensações, ou seja, os diferentes períodos da história em que Deus revelou sistemas de regras específicas para governar a humanidade.
Um dos pontos específicos do Dispensacionalismo é que Israel e a Igreja são dois povos unidos, porém distintos. Para ilustrar as diferenças, vou reproduzir a seguir alguns trechos de uma conversa que tive com uns amigos sobre dispensacionalismo
e teologia aliancista ou do pacto (não-dispensacionalista). Alguns dos próximos parágrafos são de autoria deles.
É verdade que os autores do Novo Testamento às vezes aplicam à Igreja certos textos originalmente dados a Israel, porque viam um paralelo entre uma situação descrita no Velho Testamento e a que a Igreja vivia. É natural traçar paralelos porque em diversos aspectos Deus lida de forma semelhante com Israel, Igreja ou mesmo indivíduos. Um exemplo disso é Paulo citando Sl 44:22 e aplicando-o à igreja em Rm 8:36. Mas isto não pode ser feito indiscriminadamente; um contra-exemplo em particular são os Salmos imprecatórios, onde ódio e maldições são descarregados sobre os ímpios (e. g. Sl 69:22-28). No Novo Testamento somos ensinados a abençoar os que nos amaldiçoam, dar a outra face e amar os inimigos.
É bastante comum nos meios cristãos a visão aliancista, onde os gentios foram ajuntados aos judeus para formarem uma única nação de Israel espiritual (não terrena/política), sendo que as promessas dadas a Israel no Velho Testamento se cumprem hoje na Igreja, simbolicamente. Pra mim isso é confuso. Somos o corpo de Cristo, o povo celestial de Deus, mas as promessas do Antigo Testamento para Israel permanecem. Vou transcrever abaixo a visão dispensacionalista de Rm 11, conforme Mal Couch:
"Da raiz ou tronco de bênçãos os Judeus, que eram os ramos naturais, foram quebrados pela incredulidade e os gentios, que eram ramos de oliveira brava, foram enxertados no lugar de bênção (v. 19-20). Os israelitas serão reenxertados (na raiz de bênção) se não permanecerem em sua incredulidade (v. 23). Um endurecimento parcial veio a Israel até que o tempo dos gentios (a época em que vivemos) se complete (v. 25). A raiz representa um local ou posição de bênção. Ela NÃO representa Israel. O texto não fala de Israel como sendo um ramo natural 'de Israel'. Isso não faz sentido. Israel, os Judeus, eram por natureza parte da oliveira, mas foram cortados por causa de incredulidade e os ramos da oliveira brava, os gentios, foram enxertados em seu lugar para receber a bênção, por meio do que eles recebem salvação. Um dia, os Judeus serão reenxertados em seu lugar de direito."
Hoje, não há diferença entre judeu e gentio com relação à salvação, pois tanto um como o outro são salvos pela graça mediante a fé em Jesus e formam um só corpo e um só povo. Mas não se pode descartar o cumprimento das promessas de restauração feitas a Israel, como Paulo mesmo diz em Rm 11:25-29:
"Porque não quero, irmãos, que ignoreis este segredo (para que não presumais de vós mesmos): que o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado. E assim todo o Israel será salvo, como está escrito: De Sião virá o Libertador, E desviará de Jacó as impiedades. E esta será a minha aliança com eles, Quando eu tirar os seus pecados. Assim que, quanto ao evangelho, são inimigos por causa de vós; mas, quanto à eleição, amados por causa dos pais. Porque os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento."
A maioria dos aliancistas são amilenistas e acham que Jesus não irá reinar literalmente na terra, governando sobre as nações, sendo isso interpretado como linguagem figurada que se refere à glorificação de Cristo logo após sua ressurreição e ascenção. É verdade que Jesus está assentado à direita do Pai, mas não assumiu o trono de Davi ainda, seus inimigos não foram postos por escabelo de seus pés, a igreja não possui a terra de Israel conforme as fronteiras geográficas estabelecidas no Antigo Testamento (veja a postagem A Terra Prometida), a terra não está toda cheia da glória e do conhecimento de Deus, o leão não come palha com o cordeiro, a lua não se tornou em sangue, o sol não se escureceu, o anticristo não se revelou, a pedra cortada sem auxílio de mãos humanas não o esmagou e não se tornou em um reino que cobriu toda a terra; Apocalipse foi escrito no Novo Testamento, ainda não se cumpriu e a restauração de Israel ainda é um evento futuro segundo Paulo. Quem quiser espiritualizar e inventar interpretações para todas estas profecias, que faça isto por sua própria conta e risco. Prefiro não colocar palavras na boca de Deus.
E só para não ficar nem de longe a impressão de que a Igreja de Cristo é inferior a Israel mas que os dois são conceitos bem diferentes:
Em Oséias Deus compara seu relacionamento com Israel ao de um marido com uma esposa infiel, traidora, indigna. Deus a ama, mas ela não liga a mínima para isso, por isso será punida. Em todo o Antigo Testamento o relacionamento de Deus com Israel é assim: bênçãos em troca da fidelidade, maldições em troca da idolatria. Você NUNCA vai ver isso em relação à Igreja. A igreja é a Noiva perfeita de Cristo, é limpa, imaculada, virgem. Não existe maldição para nós! É algo totalmente diferente, é tão diferente de Israel que no início os apóstolos, por vezes, pareciam não saber o que fazer com sua nova "religião". Afinal, houve muitos atritos entre eles por causa dos gentios, até que Deus revelou que somos todos um só corpo agora. Paulo teve que deixar claro o corte definitivo entre judaismo e cristianismo, colocando cada coisa no seu lugar.
O conceito importante a se lembrar é: Israel = povo terreno, Igreja = povo celestial. A eleição de Israel não tinha a ver com salvação da alma, nem regeneração, tinha a ver com Deus ter uma bandeira cravada na Terra e a preparação do caminho para a vinda de Cristo (havia salvação para os fiéis, de Israel ou dos gentios, pela graça). A eleição da Igreja é para salvação da alma e regeneração, tem a ver com peregrinos estrangeiros fazendo o trabalho de embaixadores. Nossa bandeira não é daqui.
Um dia Deus vai mostrar quem manda no planeta, e vai cravar novamente sua bandeira em Jerusalém, através de uma nação bem melhor do que o Israel do Velho Testamento, pois a Lei estará escrita em seus corações, algo somente possível após a vitória de Cristo na cruz. Mas eu não sou desse povo, e não preciso disso. Sou cidadão do Céu e já tenho essa vitória hoje!
Entendo que a salvação pela graça sempre existiu, mas a nova aliança foi feita no Calvário. Os indivíduos da igreja (judeus + gentios) recebem as bênçãos espirituais da nova aliança e a nação de Israel recebe as bênçãos terrenas. A igreja não substitui Israel, a nova aliança é que substitui a velha. Como a igreja nunca recebeu as bênçãos terrenas prometidas a Abraão e repetidas na nova aliança, estas se cumprirão no futuro sobre a nação de Israel. Isso só é complicado de entender se alguém assumir de antemão que Israel nunca será restaurado como nação de Deus. Se este preconceito cair, as promessas e profecias farão muito mais sentido. Alguém aqui acha que Jesus está reinando do trono de Davi com vara de ferro, esmagando as nações?
O que foi escrito a Israel serve de lição para nós, e é por isso que os autores do Novo Testamento usam o Antigo Testamento da forma como usam. Mas manter as diferenças entre Israel e a Igreja ajudam a fugir de muitas heresias. A seguir, algumas diferenças importantes:
Israel: promessas terrenas da aliança
Igreja: promessas espirituais da aliança
Israel: semente física de Abraão (alguns são também semente espiritual)
Igreja: semente espiritual
Israel: nações vem a ela para serem ministradas (com algumas exceções, e.g., Jonas)
Igreja: vai às nações para ministrar
Israel: Cristo é o Messias, Rei e Salvador
Igreja: Cristo é o cabeça, Senhor e Salvador
Último discurso de Jesus para Israel: o da oliveira (Mt 24) (qual Cristão teria problema se a perseguição fosse no sábado? Só se for adventista)
Último discurso de Jesus para a Igreja: o da ceia (Jo 13 a 17)
Israel: será julgada (na tribulação) e restaurada (no Milênio)
Igreja: livrada do juízo
Israel: regida por Cristo no Milênio
Igreja: reinará com Cristo no Milênio (não entendo como alguém pode achar que os dispensacionalistas priorizam Israel sobre a Igreja!)
sexta-feira, 19 de julho de 2013
Assinar:
Postagens (Atom)