Mt 5:18 - "Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido." (Jesus, após mencionar a Lei e os Profetas, ou seja, o Velho Testamento)
Jo 10:35 - "Pois, se a lei chamou deuses àqueles a quem a palavra de Deus foi dirigida (e a Escritura não pode ser anulada)," (Jesus, após citar o Salmo 82, de Asafe)
II Pe 1:20-21 - "Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo."
I Ts 2:13 - "Por isso também damos, sem cessar, graças a Deus, pois, havendo recebido de nós a palavra da pregação de Deus, a recebestes, não como palavra de homens, mas (segundo é, na verdade), como palavra de Deus, a qual também opera em vós, os que crestes." (Paulo, a respeito de sua própria pregação)
II Pe 3:15-16 - "E tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor; como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada; Falando disto, como em todas as suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, e igualmente as outras Escrituras, para sua própria perdição." (Pedro, afirmando que os escritos de Paulo são tão inspirados quanto "as outras Escrituras")
I Tm 5:18 - "Porque diz a Escritura: Não ligarás a boca ao boi que debulha. E: Digno é o obreiro do seu salário." (Paulo, citando tanto Dt 25:4 quanto Lc 10:7 como Escrituras Sagradas, provando que o Evangelho de Lucas foi inspirado)
II Tm 3:16-17 - "Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra." (Prova da inspiração e suficiência das Escrituras, que incluem tanto o Velho Testamento quanto o Novo, conforme os textos acima)
Ap 22:18-19 - "Porque eu testifico a todo aquele que ouvir as palavras da profecia deste livro que, se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus fará vir sobre ele as pragas que estão escritas neste livro; E, se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte do livro da vida, e da cidade santa, e das coisas que estão escritas neste livro." (Sem comentários!)
Aí está, não há como contestar. Se você se diz Cristão, tem que acreditar em Jesus, imitar Paulo, seguir o ensino dos apóstolos. Eles disseram que é tudo inspirado. A pergunta é: tudo o que? Quais livros? Qual cânone, o católico romano, o ortodoxo ou o protestante? Se as palavras são inspiradas, que dizer das traduções? São inspiradas também? Qual delas? NVI, ARA, ARC, ACR Fiel, BLH? Quanto aos manuscritos, após milhares de anos de cópias, não se introduziram erros? Existem livros da Bíblia que se perderam ou foram excluídos do cânone pelos concílios da igreja? Quem decidiu quais livros foram inspirados? As pessoas que decidiram isto eram infalíveis? Se não, como saber que não erraram na escolha? Como você sabe que Mateus escreveu Mateus?
Para começar, vamos pensar no cânone, ou seja, a lista de livros inspirados. O cânone do Novo Testamento é o mesmo nas Bíblias protestantes e católicas. Os chamados apócrifos ou deuterocanônicos aparecem no Velho Testamento da Bíblia romana, mas não na protestante. Basicamente, eles são livros escritos nos 4 últimos séculos antes de Cristo e considerados inspirados pelos católicos romanos e ortodoxos porque encontram-se na famosa tradução dos setenta, ou Septuaginta. A Septuaginta foi uma tradução do Velho Testamento hebraico para o grego koiné, realizada por 72 rabinos em Alexandria entre os séculos 3 e 2 antes de Cristo. Estes livros aparecem também nas primeiras traduções da Bíblia inteira (Velho e Novo Testamentos) para o grego, como o Codex Vaticanus (325 a. D.), Codex Sinaiticus (340 a. D.) e Codex Alexandrinus (450 a. D.). Aparecem também na primeira tradução para Latin, a Vulgata (385-405 a. D.) e na famosa tradução do Rei Tiago (King James Version) em sua versão original de 1611, alocados em uma seção separada.
Se tantas Bíblias antigas incluem os apócrifos, por que os protestantes rejeitaram-nos? Afinal de contas, quem decide o cânone? De que adianta saber que existem livros infalíveis se não temos alguém para infalivelmente nos dizer quais são estes livros? Os católicos romanos “resolvem” este problema afirmando que possuem um magistério infalível para tomar tais decisões. Roma decidiu o cânone. Isto é conveniente, mas é impossível justificar tal infalibilidade, o que acaba criando mais problemas do que resolvendo. Por exemplo, o Papa Gregório, o Grande (540 a 604 a. D.), escreveu que o livro apócrifo I Macabeus não era canônico (Morals on the book of Job, vol. 11, partes III e IV, livro XIX, 34). Mas o Concílio de Trento (1546 a. D.) disse que é, portanto, o Papa Gregório falhou. Se a autoridade final é o Concílio Ecumênico, por que Deus esperou 1500 anos até que o cânone fosse estabelecido infalivelmente? Como os Cristãos antes disto poderiam saber quais eram as Escrituras? E por que devo acreditar que Trento foi infalível, se vários santos de renome no passado não aceitavam os apócrifos como inspirados, tais como Orígenes (185-254 a. D.), Atanásio (295-373 a. D.) e Jerônimo (347-420 a. D., apesar de tê-los incluído na Vulgata, não os considerava canônicos) (J. R. White, Scripture alone, BethanyHouse, 2004)?
Na verdade, existem duas razões por que os protestantes rejeitaram os apócrifos: por inconsistências doutrinárias e, principalmente, por que eles não se encontram no cânone da Bíblia Hebraica, o chamado Tanach. Deus confiou o cânone do Velho Testamento aos judeus:
Rm 3:1-2 - “QUAL é logo a vantagem do judeu? Ou qual a utilidade da circuncisão? Muita, em toda a maneira, porque, primeiramente, as palavras de Deus lhe foram confiadas.”
O cânone do Velho Testamento é aquele atestado por Jesus, e Suas palavras indicam que o cânone aceito pelos fariseus (idêntico ao protestante - http://catholicdefense.blogspot.com/) é o que deve ser usado:
Mt 23:1-3 - “ENTÃO falou Jesus à multidão, e aos seus discípulos, Dizendo: Na cadeira de Moisés estão assentados os escribas e fariseus. Todas as coisas, pois, que vos disserem que observeis, observai-as e fazei-as; mas não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não fazem".
Jesus dividiu o Velho Testamento em três partes, assim como o Tanach hebraico:
Lc 24:44 - “E disse-lhes: São estas as palavras que vos disse estando ainda convosco: Que convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés, e nos profetas e nos Salmos.”
É verdade que, como o Novo Testamento foi escrito em grego, os apóstolos às vezes usavam a Septuaginta ao citarem textos do Velho Testamento. No entanto, eles nunca citaram nenhum texto dos apócrifos (o livro de Enoque, supostamente citado por Judas, não é apócrifo, é pseudepígrafo, e não se encontra no cânone católico). Por outro lado, o Novo Testamento contém centenas de citacões dos livros do cânone hebraico/protestante, incluindo 94 citações do Pentateuco (Lei de Moisés), 99 dos Profetas e 85 dos Escritos/Salmos (http://www.bible-researcher.com/nicole.html).
O interessante é observar que os judeus acertaram o cânone mesmo antes de Jesus confirmá-lo. Os judeus tinham um magistrado infalível? Não. São homens falíveis identificando corretamente um cânone infalível. O mesmo aconteceu com a Igreja em relação ao cânone do Novo Testamento. Não confiamos em uma organização humana para determinar o cânone. Confiamos que Deus teve um propósito de revelar Sua Palavra à igreja para que ela pudesse cumprir sua missão. Confiamos na soberana mão de Deus sobre este assunto. Assim, Ele revelou o cânone do Novo Testamento por meio de Seu Espírito à Sua igreja. Houve controvérsias? Lógico, sempre há. Os saduceus também não aceitavam o cânone dos fariseus, aceitavam apenas o Pentateuco. Os judeus helenistas aceitavam os apócrifos. Só que Deus faz conhecer Sua Palavra. Assim, com o tempo a Igreja acabou sendo praticamente unânime quanto ao cânone do Novo Testamento, onde católicos, ortodoxos e protestantes estão de acordo. Como o cânone do Velho Testamento hebraico é o que deve ser seguido, pra mim isto encerra a discussão.
Continua na próxima.