Vivemos na época da graça, onde a salvação é pela fé em Jesus e Seu sacrifício na cruz por nossos pecados. Uma pergunta que muitos fazem é sobre como era a salvação antes de Cristo vir ao mundo. Será que as pessoas tinham que guardar a Lei de Moisés para serem salvas? Uma vez que a Lei foi dada aos judeus, como os gentios (todos os não-judeus) poderiam ser salvos? E antes da Lei, como as pessoas eram salvas?
Antes de comentar sobre a salvação em eras passadas, vale a pena gastar um pouco de tempo com o próprio conceito de um Deus imutável. Muitos entendem que o Deus do Velho Testamento é muito diferente do Deus do Novo Testamento. O primeiro era duro, irado e legalista, o segundo é manso, simpático e gracioso. Um dia um colega tentou me convencer disto dizendo que Moisés ensinou que o povo devia temer a Deus, mas Jesus ensinou que devemos amar a Deus (ele certamente não conhecia Dt 6:5 e I Pe 2:17). Os gnósticos na época dos apóstolos ensinavam que o deus do Velho Testamento não era o mesmo Deus do Novo. Eles tinham a idéia do dualismo, onde o mundo espiritual é santo e bom e o mundo físico é mal e profano. Mas, como pode um Deus santo criar algo mal? Os gnósticos resolveram este dilema ensinando que o único e verdadeiro Deus não criou o mundo físico; eles criaram a idéia dos "aeons", que seriam emanações vindas de Deus. Cada emanação está um pouco mais distante de Deus, sendo menos pura e menos espiritual. No final desta sequência de aeons veio um ser que ainda conservava poderes divinos, mas estava suficientemente distante do Deus original para poder criar algo impuro como o mundo físico. Este ser, chamado de "demiurge", foi identificado pelos gnósticos do século dois como sendo YaHWeH, o Deus do Velho Testamento. O famoso escritor H. G. Wells defendia esta posição. É importante que você saiba estas coisas caso alguém queira falar sobre livros apócrifos, como o "evangelho" de Tomé, que revela influência gnóstica e certamente não foi escrito pelo apóstolo Tomé.
As respostas para nossas questões sobre Deus só podem ser respondidas por Ele mesmo e, sendo assim, devemos recorrer à Palavra de Deus, e esta você só vai encontrar na Bíblia. Sobre o Deus do Novo Testamento ser o mesmo do Velho é muito claro, mas não custa citar Hebreus:
Hb 1:1-3 - "Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho, A quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo. O qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da majestade nas alturas"
Então, o Deus que falou pelos profetas do Velho Testamento é o mesmo que falou por meio de Jesus no Novo Testamento, e Jesus é a imagem exata deste Deus. Então, se você conhece Jesus, conhece o Pai. As mesmas características presentes em Jesus têm que estar presentes no Pai, e não importa se você está lendo o novo ou o velho testamento, pois Deus não muda:
Ml 3:6a - "Porque eu, o Senhor, não mudo;"
Isto não significa que o plano dEle para a humanidade não tenha etapas distintas ao longo da história, mas Deus não muda. Seus atributos são eternos, alguns dos quais podem ser reconhecidos na própria criação (Rm 1:19-20), ao contrário do que os gnósticos dizem.
Mas, então, como explicar a aparente discrepância entre a descrição de Deus nos dois Testamentos? Na verdade, a discrepância não está nos atributos de Deus. Compare os textos abaixo.
Sobre a severidade de Deus no Novo Testamento:
Hb 10:26-27,30-31 – “Porque, se pecarmos voluntariamente, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados, Mas uma certa expectação horrível de juízo, e ardor de fogo, que há de devorar os adversários... Porque bem conhecemos aquele que disse: Minha é a vingança, eu darei a recompensa, diz o Senhor. E outra vez: O Senhor julgará o seu povo. Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo.” (textos como este são “proibidos” em muitos púlpitos evangélicos hoje em dia)
Ananias e Safira foram fulminados por Deus por causa de uma mentira (Atos 5); o rei Herodes foi morto por um anjo porque não deu glória a Deus (At 12:23); Jesus falou mais sobre o inferno do que qualquer outra pessoa na Bíblia; quase todo o livro de Apocalipse descreve os tormentos dos juízos futuros de Deus sobre a humanidade, e por aí vai... não sei de onde tiraram esta imagem de um Deus frágil, alegrinho, quase efeminado que muitos estão pintando hoje em dia.
Sobre a longanimidade de Deus no Velho Testamento (longanimidade é aquilo que faz Deus se conter em face a provocações, é o oposto de raiva, segundo o dicionário Vine):
Jl 2:13 - “...convertei-vos ao Senhor vosso Deus; porque ele é misericordioso e compassivo, tardio em irar-se e grande em benignidade, e se arrepende do mal.”
Sobre a Lei de Deus no Novo Testamento:
I Co 9:21 – “...não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo...”
Jo 14:21 – “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele.”
Sobre a Graça de Deus no Velho Testamento:
Jr 18:7-8 - “Se em qualquer tempo eu falar acerca duma nação, e acerca dum reino, para arrancar, para derribar e para destruir, e se aquela nação, contra a qual falar, se converter da sua maldade, também eu me arrependerei do mal que intentava fazer-lhe.”
Exemplo claro disso é a conversão da cidade de Nínive, descrita no livro de Jonas, onde milhares foram salvos pela graça, mediante a fé.
É claro que o Velho Testamento apresenta guerras e matanças em nome de Deus que não vemos no Novo Testamento. Mas para entender isto vamos estudar, no futuro, as dispensações. Por hora, basta nos convencermos de que Deus sempre quis salvar os pecadores, tanto no Velho quanto no Novo Testamento, e vamos ver qual foi a forma que Ele escolheu para isto antes da vinda de Cristo.